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Capítulo 2 – A convocação

Naquela noite fui acordada por um dos soldados do castelo. O rei solicitava minha presença imediatamente.

Segui o soldado quase correndo pelos corredores do castelo e parei em frente ao rei em sua sala de reuniões. Ele andava de um lado a outro com algumas folhas na mão.

"Sente-se Kayla." falou seco e fiz o que ele mandou. "Você sabe que sua vida me pertence, não sabe?" fiz que sim com a cabeça. "Cuidei de você a vida toda e agora preciso que pague o que fiz." me assustei com suas palavras duras.

"Pagar, majestade? Pagar como?" meus pelos estavam arrepiados e meu coração disparado.

"Leia isso." ele me entregou os papeis que segurava de forma bruta.

Tentei amparar as folhas para que elas não caíssem no chão.

Meus olhos corriam rápidos pelas linhas ali descritas, uma após outra me deixavam com a sensação de que minha alma estava sendo jogada na fogueira.

"Esse é o príncipe com o qual o senhor quer casar a princesa?" falei tremendo e ele me olhou sério.

"Não, eu não vou tolerar que esse sádico toque em um fio de cabelo da minha filha, mas não posso deixar de enviar alguém para o tal baile." ele se encostou na mesa e me analisou. "Você irá no lugar dela."

"EU?!" pulei da cadeira assustada. "Mas majestade, e ... e se ele..." perdi a fala com as informações contidas naquele relatório.

Ali, naquelas folhas, existia uma lista de supostas crueldades e defeitos do pretendente da princesa e eu teria que lidar com cada um deles.

"Eu não estou lhe dando uma escola, Kayla. Você vai para honrar seu reino. Se tudo der certo, em uma semana você voltará para casa e esqueceremos que tudo isso aconteceu." meus olhos se encheram de água.

"Majestade, mas isso é suicídio. E se ele fizer comigo qualquer uma dessas coisas descritas aqui?" mostrei a carta e o rei estreitou os olhos em minha direção.

"Acha que sua vida é melhor do que a de minha filha? Acha que devo mandá-la para enfrentar esse homem e seu reino? ACHA QUE É ALGUÉM TÃO VALIOSA ASSIM PARA MIM?" Seus olhos agora estavam tão perto dos meus que parei de respirar para não incomodar o rei.

"Não, senhor." abaixei a cabeça sabendo que aquele seria me destino e que não haveria uma forma de lutar contra ele.

"Fico feliz que entendeu o seu lugar aqui. Eu lhe dei um teto, lhe mantive viva mesmo depois da sua infâmia necessidade de se parecer com a minha filha, chegou a hora de você nos pagar essa benção que lhe demos." as lágrimas já corriam por meu rosto e segurei meu soluço para que o rei não o ouvisse. "Se prepare para partir amanhã. Me mande um relatório assim que chegar ao reino de Kingswood e me diga tudo que encontrar por lá. Cada detalhe, Kayla."

"Sim, majestade."

"Agora saía. Arrume suas coisas até a hora do almoço. Sua carruagem sairá a 1 pm, não se atrase." confirmei e sai a passos lentos da sala fechando a porta.

Comecei a correr pelo corredor com meus olhos vertendo mais água do que nunca. As folhas ainda permaneciam em minha mão e as amassei com toda a força que tive. Aquilo era tão injusto.

Eu não entendia a necessidade de ter que me passar pela princesa nem por um mísero segundo. O rei poderia apenas rejeitar o pedido, ou fingir que não existia princesa alguma.

Entrei em meu quarto e joguei as folhas na lareira. Eu sentia um ódio tão grande crescer em meu peito, que me sufocava.

Após jogar as folhas na lareira, eu me sentei à beira da cama, encarando o chão com olhos inchados de lágrimas. A raiva queimava dentro de mim, mas eu sabia que não podia contestar as ordens do rei. Ele era o soberano, e minha vida realmente lhe pertencia, como ele havia enfatizado.

Abri o pequeno baú que continham todos os meus vestidos pretos e as máscaras que cobriam meu rosto, com certeza aquela não seria a postura que o rei gostaria que eu parecesse, então teria que conversar com a princesa para que ela decidisse o que eu deveria usar na minha temporada dentro do castelo de Kingswood.

Com o amanhecer do dia, todo o castelo estava em uma grande corrida para o despertar do rei e da princesa. Os criados corriam de um lado a outro e transformavam cada tarefa em uma dança perfeita.

Após o fim do café da manhã, solicitei uma audiência com o rei e esperei por um tempo considerável até que ele me recebesse.

"O que é agora, criada." me disse com impaciência.

"Majestade, não posso arrumar minhas coisas para ir..." não consegui concluir minha frase.

"E POR QUE NÃO?" Ele me deu um tapa no rosto e me desequilibrei caindo ao chão.

"Porque não posso aparecer assim na presença d príncipe. Todos os meus vestidos são pretos." falei não chão, sem olhar para o rei.

Ele caminhou a minha volta e chamou um criado.

"Tragam a dama de companhia de Penélope aqui, agora!" o homem saiu correndo. "Levante-se, criada." fiz o que ele pediu sem encará-lo.

A mulher baixinha, com quem eu adorava conversar, entrou na sala correndo e fez uma reverência ao rei, parando ao meu lado.

"Chamou, majestade?" seu lindo vestido azul roçou o meu, e me senti mais confortável com sua presença.

"Kayla irá em uma missão em nome da princesa Penélope. Arrume três baús com roupas e acessórios que minha filha usaria. Somente peças que Penélope não teria vergonha alguma de usar." os lábios da mulher se desencostaram e ela apenas confirmou com a cabeça. "Transforme Kayla em uma princesa até o meio-dia. Sua carruagem sai às 1 pm. Agora vão."

Clarissa me arrastou para fora da sala com as mãos tão frias quanto a minha. Ela não me perguntou nada, apenas me arrastou até seu quarto e me sentou na penteadeira me fazendo abaixar o capuz e remover a máscara.

Seus olhos ficaram assombrados assim que os fiz, mas novamente ela não disse nada. Fazia anos que eu não me olhava no espelho, mas quando o fiz fiquei da mesma forma que Clarissa. Minha imagem traía o reino. Eu era extremamente parecida com Penélope.

A dama de companhia da princesa, correu até a porta e a trancou voltando-se para mim.

"Oh minha menina, que destino terrível." não disse nada. " Vou separar tudo o que vossa alteza usaria em um lugar desses e quais cores usar em cada ocasião." confirmei com a cabeça.

"Você não pode ir comigo?" os olhos dela brilharam. "Eu adoraria, mas acredito que a princesa já deve estar irritada o bastante por perdê-la." confirmei com a cabeça e fiquei aprendendo tudo o que a senhorita Clarissa tinha a me mostrar.

Os minutos pareciam correr, e meu coração seguia pelo mesmo caminho. Desde que o rei revelou a minha missão, meu coração se encontrava em sobressaltos.

Assim que tudo estava pronto, coloquei minha capa negra por cima do vestido verde que Clarissa me fez colocar.

"Coloque a máscara novamente, só a tire quando estiver chegando ao castelo de Kingswood." confirmei com a cabeça. "Que todos os Deuses tenham piedade de você, querida." A abracei com carinho e saí do quarto indo em direção a entrada do castelo.

A alguns passos do meu destino, ouvi a voz melodiosa de Penélope me chamar.

"Kayla..." sua entonação, ao contrário do que eu imaginava, estava mais ressentida. " Pelo visto conseguiu o que sempre quis." levantei a cabeça para olhá-la. "Acha que nunca percebi a sua inveja?" respirei fundo, "Não se esqueça do teu lugar aqui dentro, criada. Porque é apenas isso que você é. Não demore a despachar o príncipe, não quero ter que ir buscá-la pelos cabelos." ela me deu uma última olhada e se virou em sua pose altiva, voltando para dentro do castelo.

Continuei meu caminho e cheguei a entrada do castelo, onde uma carruagem real me esperava, com todos os seus adornos. Uma mulher que eu nunca tinha visto, sorriu para mim e veio em minha direção.

"Alteza, é uma honra acompanhá-la a esse evento." Concordei com a cabeça, entende o que o rei não tinha contado nada sobre quem eu era a ela.

Entramos na carruagem com a mulher falando sem parar.

"Sou a Lady Isobel Fairchild."

"É um prazer."

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