Capítulo 6 - Leon
Eu a vi chegar, estava olhando pela janela do quarto e escondido atrás da escura persiana. Ela é muito mais bonita do que eu imaginava, percebi o modo como Fabiano olhava para Lana. Talvez, tenha sido um grande erro escolhê-la para vir.
De novo essa sensação estúpida de estar cometendo um grande erro. Pelo corredor, eu ouvi os passos de Alberto e dela, e a pergunta que fez.
— Esse é o Leon?
— Não, esse é Denner Versalles. O pai dele! — Alberto respondeu para Lana.
— Era um homem muito bonito.
A dor me invadiu o peito ao ouvir aquela frase, ela é como as outras. Vai abominar estar em meus braços, o toque rugoso da minha pele dilacerada pelo fogo vai causar a ela horror. Mas vou mostrar quem dá as ordens, mesmo que odeie estar comigo, o dinheiro fará com que ela sempre esteja à minha disposição. Essa felicidade que ela ostenta irá embora em pouco tempo.
Sentei-me em frente ao notebook para admirar o espetáculo, mas Ofélia bateu na porta e fechei a tela.
— O que quer, Ofélia? — Perguntei irritado.
— Apenas saber se você irá jantar com a moça e com o doutor Alberto?
— Não, diga a ele que deve comer e depois vir ao meu escritório.
— E a garota?
— Não quero vê-la, pelo menos, não hoje. Deve estar cansada e eu preciso dela bem disposta. — Ofélia não gostava nada da ideia de ter uma mulher em casa, que não fosse a serpente da Carla.
— Eu só quero deixar bem claro que não vou aceitar as ordens dessa garota de programa, assim como nunca aceitei das outras.
— Não tenho intenção de dar a ela uma posição de comando dentro dessa casa, mas você não se esqueça do seu lugar!
— Claro que não, menino Leon, sou fiel a você e sua família e não será agora que irei falhar.
Fui para o escritório e lá permaneci esperando que Alberto finalmente entrasse por aquela porta.
— Desculpe-me pela demora, Leon, achei que quisesse conhecer Lana ainda hoje.
— Não! Deixe-a onde está. Como foi no Brasil?
— Tudo vai muito bem, eu trouxe os relatórios da empresa. Seu irmão, Osvaldo, parece estar mantendo tudo sob controle. — Sempre que Alberto cita o nome desse bastardo, sinto minha boca secar. Ele e seu sempre nos odiamos, é fruto de um relacionamento que meu pai teve antes de conhecer minha mãe, é um bastardo e ter que dividir com ele a empresa que era da minha família é um grande fardo.
— Não se refira mais a ele como meu irmão! Deixe os relatórios sobre a mesa, e Lana?
— Está assustada e sei que muito ansiosa para conhecê-lo.
Sorri com ironia.
— Essa ansiedade vai passar em breve, me disse por telefone que ela mora em uma casa humilde no Tocantins.
— Sim, Leon, não sei se tomei uma decisão acertada trazendo-a para cá.
— E por que essa dúvida agora doutor Alberto?
— Todas as outras eram profissionais, ela não.
— Pode não ter ganho a vida com isso, mas está aqui porque assinou um contrato alugando o próprio corpo para mim!
— Mas ela tem um forte motivo para isso, Leon.
— Parece que ela tem um jeito especial de encantar os homens.
— Não da forma que está imaginando, ela me fez prometer que a levaria para casa se não se adaptasse à vida aqui.
Eu sorri ainda mais forte.
— Não sorria Leon, Lana está com medo e peço que seja delicado com ela.
— Desde que respeite tudo o que está no contrato, acho que nós dois não teremos problemas!
— Falando nisso, assine aqui. — Alberto colocou sobre a mesa vários outros papéis.
Assinei o contrato e agora tudo estava firmado, verifiquei rapidamente os documentos que ele me passou e os exames dela.
— Como você disse, ela está saudável. O senhor já pode ir agora e até mais ver. — O cumprimentei com um aperto de mão.
— Vou me despedir dela, com o adiantamento que mandou comprei um celular para ela. Essa foi uma das condições que Lana impôs para aceitar vir.
— Não devia ter feito isso Alberto, não quero que ela saia fazendo imagens da minha casa!
— Lana não vai fazer isso, só quer poder falar comigo e com a família no Brasil.
Eu não gostei nada de saber que ele havia tomado essa decisão pelas minhas costas, mas tudo o que me incomoda eu trato de retirar do meu caminho. Essa proteção excessiva do doutor Alberto com ela deixa-me incomodado, ela deve mesmo me achar um monstro.
Mais tarde, Ofélia trouxe o meu jantar. Comi e fiquei até tarde lendo, acabei cochilando. Acordei, olhei o horário no relógio de parede 23:31, me levantei e não sei por qual motivo, fui tomado por uma vontade de passar pelo quarto dela. Andei pelo corredor de quartos, parei na frente da porta, encostei meu ouvido contra a madeira, mas tudo estava tranquilo.
— Senhor Leon? — Fui surpreendido por uma voz doce, mas eu não podia olhar para ela, eu estava sem minha máscara. Saí bem rapidamente e voltei para o meu quarto.
[...]
Ofélia serviu o jantar para Leon, e ele não quis ver a moça naquela noite. Ele estava estranho com ela, parecia estar com medo de confrontá-la de frente. Apesar de sua situação, quando contratava os serviços dessas mulheres, ele as tratava como coisas inferiores, não temia, e se impunha o tempo inteiro.
Ela desceu as escadas, as outras empregadas estavam servindo o doutor Alberto e Lana.
— O menino Leon deixou bem claro que a moça deveria fazer suas refeições na cozinha.
— Mas eu estou aqui e pedi que ela me fizesse companhia. Se não concorda, vá até lá e discuta isso com Leon. — Alberto respondeu de maneira ríspida. Ele sabia que Ofélia não levaria um problema como esse para ele, pois Leon ficaria furioso.
— Desculpe-me, senhora. Se preferir, eu posso levar meu prato até a cozinha. — Doutor Alberto segurou na mão de Lana e a impediu de levantar-se.
— Fique e termine de comer. — Alberto disse a ela, e os dois continuaram comendo.
Lana não parecia ser uma mulher como as outras que estiveram ali, pelo menos, não parecia ser do tipo arrogante e autoritária. Ela estava faminta e bocejava o tempo todo.
Eles terminaram de comer, e Lana já sabia o caminho para seu quarto. Ela olhava a casa com uma expressão de curiosidade.
— De qual estado você é? — Ela estava olhando as pinturas pela sala e virou-se para Ofélia.
— Sou do Tocantins, de Palmas, para ser mais precisa, dona Ofélia. O doutor Alberto me disse que o senhor Leon prefere ter funcionários brasileiros.
— Sim, ele se sente mais à vontade. Acho que isso o faz se lembrar de parte da infância e adolescência, quando viveu no país.
— Ele nunca sai dessa casa?
Ofélia se virou de costas e suspirou. Falar sobre a tristeza e o isolamento de Leon sempre doía nela.
— Se realmente quiser compreender Leon, primeiro terá que ter paciência, menina. Ele sofreu e sofre muito, quer fugir do mundo, e para isso, transformou essa casa em um refúgio. Você vai aos poucos entender o que estou dizendo, só te aconselho a não se deixar contagiar pelo vazio desse lugar.
— Espero que a senhora e eu possamos nos tornar amigas. Minha mãe está em uma difícil situação agora.
Ela desarmou Ofélia, sua humildade parecia sincera. Até a deixou triste ver que Lana estaria exposta a todos os ataques de fúria e revolta de Leon.
— Desculpe-me pelo que eu disse sobre o jantar e sim, podemos ser amigas. Se precisar de alguma coisa, estou à disposição!
Ofélia voltou para a cozinha. Carla talvez não seja a melhor opção para curar o coração de Leon. Essa moça tem doçura no olhar, e ela esperava que Lana conseguisse abrandar o coração dele.