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Emma Brandão
Se passaram exatamente quatro meses desde que eu havia conseguido fugir sem deixar rastros. Eu não podia continuar vivendo com medo de morrer e ter aquela criança tirada de mim, então peguei minhas coisas e saí da cidade o mais rápido que pude.
Estava começando uma nova vida. Arrumei um emprego como garçonete em uma lanchonete e estava tentando me adaptar a nova realidade. Era um trabalho honesto e me permitia pagar minhas contas, mas ainda sentia muita saudade da minha antiga vida e de quem eu era antes de tudo acontecer.
Porém, estava aprendendo a me reinventar e descobrir novas coisas sobre mim mesma. Eu nunca pensei que conseguiria sobreviver sozinha em um lugar desconhecido, mas estava conseguindo. Aos poucos, estava me tornando mais forte e independente.
Às vezes, ainda tinha medo de que alguém pudesse descobrir onde eu estava e me encontrasse. No entanto, estava tomando todas as precauções necessárias e tentando viver um dia de cada vez.
Mesmo com toda a incerteza e medo que sentia, estava determinada a continuar lutando pela minha liberdade e pelo bem-estar do meu filho. Esperava que um dia eu pudesse me sentir segura novamente e ser capaz de voltar a viver uma vida normal. Mas, naquele momento, estava focada em sobreviver e reconstruir minha vida, uma etapa de cada vez.
— Garçonete, eu pedi uma salada com molho de mostarda e veio com molho de alho! Isso é inaceitável, vocês não conseguem fazer um simples pedido certo?
Era um dia daqueles, pensei comigo mesma. A cliente não era a primeira chata que entrava no meu caminho. Respirei fundo, para tratá-la com respeito.
— Desculpe-me pela inconveniência, senhora. Resolverei o problema imediatamente! A senhora prefere que eu troque o prato ou coloque o molho correto na salada? — questionei e ela me olhou de cara feia.
— Eu não quero mais essa salada, eu quero um novo prato com a salada e o molho de mostarda! E faça rápido, por favor, não tenho o dia todo! — respondeu exigente.
— Compreendo, senhora. Vou pedir desculpas à cozinha e providenciar uma nova salada para a senhora imediatamente. Por favor, aguarde apenas alguns minutos enquanto preparamos o prato.
Forcei um sorriso, contudo, meu desejo era de esfregar o pedido em suas fuças. Era os hormônios da gravidez me deixando mais agressiva? Talvez! Mas, o trabalho era importante, então, tinha que aturar clientes como ela.
— Finalmente alguém que sabe o que está fazendo! É assim que se trata um cliente insatisfeito.
É assim que se trata um cliente? Revirei os olhos. Mulherzinha sem noção e nojenta. Eu precisava manter o controle.
— Sinto muito pelo erro, senhora. Mas, fique tranquila que estaremos fazendo o nosso melhor para garantir a sua satisfação. Se precisar de algo mais, é só me avisar. — falei, sentindo vontade de dizer o contrário, esperava que ela nunca mais voltasse naquela lanchonete.
— Está tudo bem por enquanto. Mas, espero que vocês melhorem o serviço no futuro. Não quero ter que passar por isso de novo!
— Compreendo, senhora. Vamos trabalhar para melhorar o nosso atendimento e garantir que isso não aconteça novamente. Obrigada pela sua compreensão e paciência. A nova salada está a caminho.
Continuei com os atendimentos o resto do dia até poder voltar para casa. Quando cheguei em casa, tirei meus sapatos e fui direto para o sofá. Estava cansada depois de um longo dia de trabalho, mas a sensação de dever cumprido me deixava feliz. Olhei em volta da sala e percebi que precisava arrumar um pouco, mas isso poderia esperar para o fim de semana.
Fui para a cozinha preparar um jantar simples, afinal de contas, estava cansada demais para cozinhar algo mais elaborado. Coloquei água para ferver e escolhi um pacote de macarrão na despensa. Enquanto esperava, aproveitei para relaxar um pouco, liguei a TV e comecei a assistir a um programa de culinária.
Depois de alguns minutos, a água começou a ferver e eu coloquei o macarrão na panela. Enquanto esperava, cortei alguns legumes e preparei um molho rápido de tomate. Quando o macarrão ficou pronto, escorri a água e misturei com o molho e os legumes.
Sentei à mesa para jantar e aproveitei para relaxar um pouco mais antes de tomar um banho e ir dormir. Após terminar a refeição, lavei a louça e arrumei a cozinha. Depois fui para o banheiro e tomei um banho quente e relaxante.
Quando me deitei na cama, senti um alívio por estar em um lugar seguro e tranquilo. Agradeci pela vida que tinha e por estar conseguindo seguir em frente. Com esses pensamentos, adormeci rapidamente.
— Estou atrasada! — resmunguei ao acordar e ver as horas. Eu tinha consulta marcada com a minha médica que estava cuidando do meu pré-natal.
Troquei de roupa e decidi fazer uma caminhada até a clínica. Foi uma ótima maneira de começar o dia e aproveitar o ar fresco da manhã. Durante a caminhada, pude aproveitar a paisagem ao meu redor e sentir o sol em meu rosto.
Quando finalmente cheguei na clínica, me senti revigorada e pronta para encarar o que fosse necessário. A caminhada realmente ajudou a clarear minha mente e me preparar para o dia pela frente. Fiquei feliz por ter tomado essa decisão e prometi a mim mesma que continuaria a incorporar pequenos exercícios em minha rotina sempre que possível.
Durante a consulta com minha médica, eu estava me sentindo um pouco fraca por não ter comido nada antes e tive que me concentrar para prestar atenção em tudo que ela estava dizendo.
— Bom, vamos começar a ultrassonografia. Aqui está o seu bebê na tela. Veja, ele está se movendo bastante. — disse a médica. Olhei para tela e ele não parava um segundo de nos presentear com sua alegria.
— Ah, é lindo! Como ele está crescendo rápido. — comentei um pouco emocionada.
Aquela criança era inocente de tudo que tinha acontecido comigo. Por que condenaria sua vida? Eu queria aquele bebê mais-que-tudo, embora as circunstâncias que ele foi concebido tenham sido as piores possíveis.
— Sim, está mesmo. Tudo parece estar bem com o bebê até agora. O tamanho e as medidas estão de acordo com a idade gestacional. E olha só, ele está chupando o dedo. Que fofo!
As lagrimas desceram com aquela cena fofa. Gostaria que Ivana tivesse ao meu lado, porém, ela estava mais segura longe de mim. Durante esses meses longe dela nunca nem sequer fiz uma ligação para garantir sua segurança.
— Ah, que maravilha! Fico tão feliz em saber que está tudo bem. Estou tão ansiosa para conhecê-lo. — falei, imaginando nosso futuro, nos dois e o mundo. Eu não sabia ainda o sexo do bebê, mas sentia que era um menino.
— Tenho certeza de que sim. Mas antes disso, vamos garantir que você tenha uma gravidez saudável e sem complicações. Tem alguma dúvida ou preocupação que queira discutir comigo? — perguntou atenciosa para mim.
Duvidas eu tinha muitas e preocupações também, não sabia como cuidar de um bebê, entretanto, aprenderia tudo, na prática.
— Na verdade, sim. Eu tenho sentido algumas dores nas costas e gostaria de saber se é normal durante a gravidez. — questionei, prestando atenção na médica.
— É comum sentir algumas dores nas costas durante a gravidez, devido às mudanças no corpo e ao aumento do peso. Mas podemos conversar mais sobre isso depois da ultrassonografia, se quiser.
— Sim, claro. Obrigada, doutora. Estou me sentindo mais aliviada agora!
— De nada. Estou aqui para ajudá-la em tudo o que precisar. Agora, vamos continuar com o ultrassom e monitorar o crescimento do seu bebê.
Nunca quiser mãe, contudo, sentia que havia nascido para ser mãe daquele bebê e ele seria a razão da minha existência. O melhor de mim seria oferecido para aquela criança e juntos nossa felicidade seria completa.