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Elisabete

Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que realmente poderia ter nascido com a vida azarada.

Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer desistir do meu sonho.

Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento, Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando esta ocasião.

Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e esbravejava com todos. Inclusive com a coitada da Judi.

Ao lado dele trabalhava exaustivamente, quando chegava em casa já estava exausta e mal tinha tempo para comer e dormir, pois no outro dia tinha que estar em pé logo cedo.

Eu realmente só queria trabalhar em um ambiente feliz e tranquilo, porque realmente gostava da arquitetura e agora estava tendo a oportunidade de estar em um projeto grande de um Hotel que se tornaria um Resort.

O projeto durará 3 meses, o tempo que ele me deu de experiência. Faria questão de provar o meu valor e farei ele pedir desculpas por tudo o que falou.

Amanhã ele iria me buscar para irmos a Serrambi, onde ficava o terreno que trabalharíamos. Parece que o proprietário também estaria fazendo mais dois edifícios, o que deixava o projeto muito maior.

Mesmo estando confiante, ainda restava um pouco de receio dentro de mim. Eu era capaz, sabia disso. Mas aquele chefe era o pior dos homens, e tinha medo de que ele pudesse me ferrar só para me ver desistindo.

***

Quando acordei pela manhã, minha mente demorou um pouco para voltar ao normal. Tomei um banho rápido e troquei de roupa, e só tive tempo para tomar um café rápido já que o homem estava mandando mensagem, dizendo que já estava à minha espera do lado de fora.

" Eu já mencionei que odeio atraso, senhorita Medeiros. "

" Acho que seu relógio está muito adiantado, pois ainda faltam cinco minutos, senhor Vilella. "

Revirei os olhos, pegando a minha bolsa e batendo a porta.

Como o homem já pode estar tão irritado a esta hora da manhã?

Quando saí do prédio, vi Henrique apoiado no capô do carro com óculos escuros, muito sexy. Eu não conseguia entender como um homem tão lindo, também poderia ser tão arrogante. Não sei se isso era um mal que cresceu com ele ou algo ruim aconteceu para que o ele fosse tão odiável.

Me aproximei, sendo avaliada pelos seus olhos verdes cobertos pelos óculos escuros. Eu não queria me sentir abalada pelas sensações que ele me provocava quando me olhava dessa forma, mas era quase impossível não reagir positivamente. O que me fazia odiá-lo ainda mais.

— Bom dia, senhor Vilella. — Falei, querendo começar o dia animada.

Henrique ficou me encarando por alguns segundos antes de se mover e abrir a porta do automóvel, entrando, sem ao menos me responder.

— Está atrasada, senhorita Medeiros. — Falou arrogante, como sempre.

— Bom dia para você também, Elisabete. — Falei ironicamente, andando até a porta e sentando-me ao seu lado. — O dia está tão lindo, Elisabete, você também está muito bonita.

— Você tem algum transtorno ou é apenas ego inflado? — Perguntou, franzindo o cenho.

Eu não queria rir da sua pergunta idiota, mas foi impossível porque o homem não estava sendo irônico.

— Não tenho problemas mentais e nem sou egocêntrica, muito diferente do senhor, mas acho que você tem sérios problemas sociais, Sr. Vilella, pois nem um bom dia pode responder. — Falei ainda sorrindo.

O carro dele era um esportivo muito lindo na cor preta e teto removível. Fiquei feliz quando o abriu, dando-me liberdade para respirar o ar fresco e apreciar a vista. O vento batia em meus cabelos, os deixando esvoaçados. Fechei os olhos e tentei relaxar o caminho inteiro. Henrique se manteve calado, me dando um pouco de paz enquanto não começávamos mais uma discussão.

Fiquei feliz em saber que nós visitaríamos o local onde trabalharíamos, porque ficava perto da praia e já fazia muito tempo que eu não chegava a alguns quilômetros de algo assim. Mesmo morando na capital, que era conhecida pelas belas praias e podendo ir aos fins de semana, nunca encontrei tempo para tal diversão. Claro que eu gostaria de estar em uma situação muito melhor do que estar ao lado do meu chefe arrogante, porém, nem sempre temos aquilo que queremos e eu tinha que suportar o homem chato ao meu lado.

Quanto mais nos aproximávamos do local, mais eu conseguia sentir a maresia e isso me deixou alegre. Henrique estacionou não muito longe do local onde o proprietário estava nos esperando. Ainda sem falar nada, ele saiu do veículo e o segui.

— Isso não o deixa de bom humor? — Perguntei, respirando fundo o ar novo em que estávamos.

— Não. — Respondeu seco.

Revirei os olhos e encarei suas costas largas.

— Desculpa a pergunta, chefe, mas você tem namorada ou algo assim?

O homem virou-se para olhar para mim por cima dos óculos escuros, e dei um sorriso amarelo.

— Não estamos aqui para conversar banalidade, senhorita Medeiros. — Responder rude.

— Desculpe. A pergunta foi tola. É óbvio que você não tem uma namorada, afinal qual mulher aguentaria um homem como você. — Falei sem medo algum.

— Se eu fosse você tomaria cuidado com o que fala ou posso demiti-la agora mesmo. — Falou se aproximando ameaçadoramente.

— Não me leve a mal, Henrique, só queria saber porque você é tão arrogante e frio desta forma. — Expliquei séria. Ele estava a poucos passos de mim, e senti a minha frequência cardíaca aumentando cada vez mais. — Talvez a resposta seja bem óbvia não é, o senhor é mal-amado.

Depois do que falei, algo inusitado aconteceu. O homem deu uma gargalhada impressionante que me deixou desconcertada. Achei que o ridículo não poderia ficar mais lindo, no entanto, sorrindo assim ele ficava ainda mais irresistível.

— Você realmente não tem medo de mim, não é? — Me questionou ainda com resquícios do seu sorriso.

— Não sou paga para ter medo do meu chefe.

Ele retirou os óculos e me olhou com seus olhos verdes intensos. Henrique estava perto o suficiente para que seu corpo ficasse quase sobre o meu. Observei esses lábios carnudos e senti a minha boca secar, e involuntariamente umedeci os meus.

— Que bom que chegaram. — Falou uma mulher loira, trazendo com ela um senhor que aparentava ter entre 50 e 60 anos. — Rodolfo, este é Henrique Vilella.

A mulher tinha um sorriso largo para o meu chefe. A coitada nem sabia quem era o homem ao meu lado. Aparentemente Henrique só demonstrava sua verdadeira face para os seus funcionários.

Os três foram conversar mais distante, e fiquei para avaliar o local e tirar algumas fotos. De longe, observei o homem arrogante que veio comigo, e em alguns momentos nossos olhares se encontravam. Mesmo ele sendo do jeito que era, algo me fazia sentir atraída por ele. Nossas brigas eram muito acaloradas e todas as noites quando deitava minha cabeça no travesseiro, era a sua imagem que aparecia. Não sei o que Henrique fez comigo, mas o odiava ainda mais por isso.

— Oi! Você veio com o Henrique? — Virei-me para encontrar a dona da voz que me fez a pergunta e encontrei outra loira, no entanto, desta vez ela era mais simpática do que a primeira.

— Sim, trabalho com Henrique. — Respondi com um sorriso.

Vi seu olhar furtivo, procurando o homem atrás de mim e minha mente já começou a bolar algumas ideias sobre quem era essa mulher e como ela conhecia o meu chefe.

Conversamos um pouco sobre o hotel e a reforma. Amanda era namorada do proprietário do local, e ela disse que participaria de algumas reuniões sobre todo o projeto.

— É bom vê-lo de novo, Henrique, já faz tanto tempo.

Virei-me para encontrar o homem que me irritava todos os dias. Ele tinha um sorriso falso no rosto que me fez ficar bem curiosa.

Rodolfo passou por nós, ficando ao lado de sua namorada.

— Vocês já se conheciam? — Ele perguntou, curioso.

— Nos conhecemos na faculdade. — Meu chefe respondeu se aproximando muito de mim. — Já conheceu a minha namorada, Amanda?

Senti meu corpo inteiro tremer com as suas palavras e a sua mão em minha cintura.

Me senti estranha com a aproximação de Henrique, e a palavra namorada ainda me perturbava.

Eu não sabia porque meu chefe diria que eu sou sua namorada, pois vivíamos em pé de guerra, mas a loira com quem eu conversava antes e que estava sendo muito simpática, agora me olhava com desprezo.

Após piscar várias vezes, consegui voltar ao normal e abrir um sorriso de nervoso. Eles conversavam como se fossem velhos amigos, enquanto eu só queria me afastar do idiota.

— Então quer dizer que sua namorada também trabalha com você como sua assistente? — Amanda perguntou com um sorriso falso.

— Claro, é muito bom trabalhar ao lado do meu amor. — Ele disse me fazendo tossir algumas vezes com a sua resposta.

Eu queria poder demonstrar mais abertamente o meu ódio pelo homem, mas não sou boba de contradizê-lo na frente dos clientes, muito menos na frente da perua loira.

Sua mudança de humor me fez pegar ranço da mulher.

— É uma história engraçada, pois era difícil achar alguém que suportasse o humor dele. — Falei irônica e todos riram, inclusive Henrique.

— Viram, ela é engraçada. — Falou me apertando ainda mais a ele.

— Amanda também trabalha comigo e sei como é bom tornar o ambiente de trabalho ainda mais confortável. — Disse Rodolfo, parecendo bem apaixonado. — Bem, acho que agora podemos continuar a visita.

— Claro, mas antes eu gostaria de falar um minuto com o meu... namorado. — Falei olhando para o homem que sorria ao meu lado.

O Rodolfo saiu sorrindo e batendo no ombro de Henrique, como se ele não fosse enfrentar a minha ira assim que estivessem longe o suficiente.

Amanda nos olhava de longe com os olhos cerrados, tentando descobrir algo sobre o que iríamos conversar.

Virei-me para ele que estava com as mãos na cintura, me olhando com um sorriso sarcástico no rosto.

— Interessante saber que não sirvo para ser sua assistente, pois não tenho qualificação, mas para ser sua namorada de mentira sirvo? — O questionei tentando não demonstrar toda a minha raiva, fisicamente.

— Foi impossível, ok? Amanda é a minha ex-namorada e eu meio que queria que ela ficasse com ciúmes, e sabe, ela ficou. — Sua revelação não me chocou tanto, e senti um pouco de raiva por saber dessa questão. Era idiotice sentir, no entanto, não podia controlar todos os meus sentimentos.

— Porque eu, você parece me odiar? — Questionei interessada na sua resposta mais do que desejava parecer.

— Eu não odeio você, Elisabete, só exijo pessoas qualificadas trabalhando ao meu redor. — Falou, dando de ombros. — Mas tenho que confessar, nos últimos dias você está sendo muito eficiente. Devo desculpas por ser tão... exigente.

— Ah! Desculpa, mas você não estava sendo exigente, você estava sendo um cuzão. — Falei sem pensar, mas ele riu.

— É, fui além do normal. — Confessou me deixando um pouquinho mais feliz. — Quando Rodolfo falou que Amanda era sua namorada, a raiva do passado voltou com tudo, então vi você aqui ao lado dela. Foi impulsivo, porém você é uma mulher linda, inteligente e sabia que ela ficaria chateada.

Suas palavras, num todo, me deixaram muito abalada. Eu não poderia imaginar que Henrique falaria tal sobre mim.

— Obrigada. — Falei sem jeito. — Então quer dizer que temos que fingir ser namorados?

Eu não sabia se isso seria possível, já que nós dois não nos dávamos muito bem, no entanto, esse mal-entendido que foi gerado pelo meu chefe, já havia sido dito e não teria nada que pudéssemos dizer para fugir da mentira.

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