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Elisabete

Foi realmente decepcionante descobrir que meu namorado e minha amiga estavam me traindo. Por incrível que pareça, não me importei em perder o Miguel, pois penso que lá no fundo eu só gostava dele e não o amava. Porém, descobrir que foi traída era algo horrível, agora estava difícil seguir sem saber em quem confiar.

Naquela noite que os peguei juntos, fiz questão de colocar tudo para fora. Disse o que se passava pela minha cabeça e não me arrependia de nada.

Na verdade, estava arrependida por não ter cortado o pau dele fora e feito a vadia o comer.

Conheci Ângelana faculdade e a achei muito legal na época. Eu mal sabia que seria apunhalada pelas costas e ter que arrumar um lugar para morar.

Tenho sorte por ter uma irmã maravilhosa, pois quando liguei para ela, rapidamente Mariana veio ao meu socorro. Eu ficaria com ela até achar um novo emprego, já que não bastava o meu dia ter sido conturbado, ainda descobri que fui traída e não tinha onde morar.

Seu apartamento não era muito grande, mas cabíamos nele. Como minha irmã trabalha como guia turística e vive viajando, seria perfeito para nós.

Eu achava que tudo que aconteceu naquele dia tinha sido um aviso do Destino de que algo estava muito errado. Ainda não sabia o quê, mas esperava que essa maré de azar não permanecesse ao meu lado.

— Não se preocupe, Elisa, você pode ficar o quanto quiser na minha casa. Eu mal fico aqui mesmo e quando estiver será divertido passar o dia com a minha irmã mais velha.

Mariana era um amor de pessoa. Todos a amavam e ela sempre foi a mais popular na nossa casa. Ela era minha irmã mais nova, porém, depois da faculdade a garota seguiu na sua área de atuação, muito diferente de mim que não tive tanta sorte e optei por trabalhar para me sustentar e deixei um pouco de lado o meu sonho. Entretanto, a minha demissão e essa nova situação em que me encontrava, me deu oportunidade de finalmente procurar o que desejava.

— Obrigada, irmã, você é meu anjo. — Falei a abraçando forte. — Vou arranjar um emprego em minha área, você vai ver, não vai demorar muito.

— Eu espero que sim. Você merece fazer o que gosta, é muito criativa e inteligente, aposto que essas empresas estão perdendo a oportunidade de ter alguém tão inteligente como você. — Disse indo para a cozinha. — Mas agora vamos assistir a um filme muito divertido. Já faz um tempo que nós não temos essa oportunidade.

Ela tinha razão, no meu antigo trabalho eu não tinha oportunidade de sair e me divertir muito. Era trabalho e mais trabalho, sem tempo para folga. Mariana vivia no emprego dos sonhos, ela viajava para o litoral com os turistas nas praias mais lindas de Pernambuco. Outras vezes, ela trabalhava em sítios arqueológicos.

Enquanto ela fazia a pipoca, liguei a televisão e procurei algo decente para assistirmos. Querendo ou não, a minha cabeça ainda questionava muitas coisas sobre Miguel e a traiçoeira que eu chamava de amiga.

— Acha que eles estavam juntos há muito tempo e só eu que era idiota nessa história? — A perguntei.

Eu queria parar de pensar nessa situação, no entanto, talvez a raiva estivesse trazendo tudo à tona em minha cabeça e comecei a questionar vários momentos da nossa vida.

— Eu não sei, mas nunca gostei daquela mulher. Na verdade, nunca pensei que o Miguel faria tal coisa com você, achei que ele te amava. — Disse em um tom triste.

— É, eu também, entretanto, eu não gostava mesmo muito dele, talvez fosse apenas comodismo. — Pensei em voz alta. - Quer saber, é melhor esquecermos isso. O Miguel não vale um minuto dos meus pensamentos mais.

Mariana volta com a pipoca e resolvemos assistir uma comédia para rir muito e esquecermos os problemas. Tinha que focar agora em achar um emprego e ter o meu próprio lugar. Não deveria mais deixar que ninguém me atrapalhasse, esse era o meu futuro e não podia deixá-lo para trás por causa de momentos ruins ou pessoas que não valiam a pena.

***

Não fiquei parada em casa lamentando pela vida medíocre que tive durante esses três anos. Saí e entreguei os currículos nas empresas que eram do meu ramo.

Minha irmã saiu para trabalhar, me deixando sozinha. Como não tinha muitos amigos, fui obrigada a esperar em casa, entediada.

Rezei para todos os santos e deuses existentes no mundo para que eu tivesse uma resposta rápida, pois não queria continuar parada, não suportava ficar em casa sem fazer nada o dia inteiro.

Quem me olhasse diria que eu estava em um romance com o meu celular, pois passei o dia inteiro ao seu lado esperando que ele tocasse.

Quando vim para recife, foquei tanto em estudar e arrumar um emprego que não tive a oportunidade de sair e conhecer tudo o que deveria, por isso não tinha tantos amigos, e justo a que arrumei, me traiu. Claro que isso trouxe um pouquinho de desconfiança, e seria difícil acreditar em mais alguém no futuro.

Meus pais moram no interior, bem distante. Eles vivem de forma humilde e nos criaram com poucas coisas, mas nem por isso nos deixaram negligenciadas, nos ensinaram que não precisamos de muito para sermos felizes, apenas de pessoas que valham a pena.

Quando a minha irmã também veio para cá, eu já não precisava ficar mais só. Ela estudava e morava comigo, e podíamos sair para nos divertir.

Conheci o Miguel quando trabalhava em uma lanchonete, ele também estudava na mesma faculdade que eu, no curso de física. Gostei dele, pois era inteligente e muito bonito. Mas pensando bem, agora, Mariana tinha razão, ele foi sempre meio esnobe e se achava melhor que todo mundo. Sempre que eu falava sobre o meu sonho quando estávamos juntos, ele fazia questão de me colocar para baixo, dizendo que isso seria impossível para mim.

Antes de vir para cá, passei muito tempo sem ninguém, as pessoas sempre pensavam que eu tinha algum problema, porém, só queria focar no meu objetivo. No entanto, se você não seguir conforme a dança, as pessoas começam a falar e isso sempre foi um problema para minha mãe.

Mas que se dane!

Ninguém deveria viver baseado no que as pessoas vão achar ou não. Era a nossa vida, e somos nós que escolhemos o que queremos ser ou não, caso contrário sempre iremos viver infelizes, pois nem sempre o que as pessoas desejam para nós, era o que realmente nos faria feliz.

Agora mesmo, tinha que me concentrar no que eu queria, e ao ouvir o celular tocar, quase tive um ataque de pânico.

Olhei na tela e era um número desconhecido. Poderia ser qualquer um, mas mantive o meu pensamento positivo.

— Alô. — Disse ao atender.

Eu estava tentando disfarçar a minha ansiedade, porém, estava ficando difícil.

— Alô, Elisabete? — Perguntou a voz feminina do outro lado.

— Sim, sou eu. — Respondo ainda eufórica. Tentei a todo custo me acalmar, mas era a primeira vez em muito tempo que uma empresa me respondia.

— Eu sou a Judi, trabalho para a empresa ART Vilella e gostaria de saber se você ainda está à procura da vaga?

Assim que ela havia acabado de falar, afastei um pouco o telefone do ouvido, para que a mulher não ouvisse a minha histeria. Já fazia um tempo que eu desejava fazer uma entrevista nessa empresa, mas as vagas eram muito disputadas.

— Claro que sim. — Respondi ainda me abanando.

— Ótimo, estou agendando sua entrevista para amanhã, ok? — Falou a mulher que mais parecia um anjo.

— Ok, estarei aí. — Respondi.

Antes de desligar, Judi me passou os detalhes sobre a entrevista. Eu sabia que não seria a única a ir até lá, mas eu faria de tudo para ser a melhor de todas.

Assim que a ligação foi encerrada, eu praticamente saltitei de tanta alegria.

***

Ao chegar na frente do prédio alto e moderno, fiquei impressionada com a sua beleza. Era realmente luxuoso. Eu nem sabia que existia edifícios tão modernos em Olinda, pois a cidade era conhecida pelas casas e prédios antigos.

Sem perder tempo, adentrei o lugar. A ART Vilella ocupava os três últimos andares, e ao chegar perto do elevador, três mulheres já o esperavam. Não sabia se elas já trabalhavam aqui ou não, mas dava para ver que não vieram para brincadeira, elas estavam lindas.

Se elas fossem minhas concorrentes e essa fosse uma disputa de moda, eu estaria ferrada. Saí de casa com um traje formal. Uma saia lápis e uma blusa de manga longa, solta.

Assim que saímos no andar onde seria a entrevista, tive a confirmação de que essas mulheres eram realmente minhas concorrentes. Mas não me preocupei, já que eu era muito bem qualificada, apesar de ainda não ter trabalhado fixamente no ramo.

Judi, que era a secretária do todo-poderoso, apareceu para nos indicar onde seria a entrevista.

Eu estava bem nervosa e precisava de um pouco de água para que me acalmasse.

Pedi informação a ela, que me indicou uma sala que servia de copa para alguns funcionários comer e beber água.

Fui até a sala e bebi um pouco de água. O lugar não era muito pequeno e tinha muitas coisas para os funcionários. Respirei fundo ao sair da sala, mas meu corpo se chocou contra uma parede de músculos que fez com que eu recuasse um pouco e quase caí.

— Meu deus, desculpa, eu não…

Meus olhos procuraram a vítima da minha desatenção e senti que meus pulmões quase pararam de funcionar. Ele era alto, tinha ombros largos, olhos verdes intensos e uma barba rala que me fez arrepiar. Suas mãos seguravam minha cintura para que eu não fosse ao chão.

Mantive minhas mãos em seu peitoral largo, ainda boba pela sua imagem perfeita.

— Você deveria olhar para onde anda. — Ele disse com sua voz grossa e arrogante.

A magia acabou no mesmo instante que seu olhar se tornou frio. Pisquei duas vezes raciocinando sobre todo o ocorrido.

— Desculpe-me, mas o senhor também teve culpa. — Falei me defendendo.

— Como posso ter culpa nisso se foi você quem esbarrou em mim? — Me questionou cerrando os olhos.

Era inegável que esse homem era lindo e charmoso, mas tudo isso não ofuscava a ignorância e a rispidez que destruía a bela obra de Deus.

O olhando atentamente, o bonitão de olhos verdes parecia um modelo de capas de revista chique. Podia apostar que esse babaca era um arquiteto ou engenheiro. Mesmo tendo muita gente legal, essas áreas eram cheias de homens e mulheres egocêntricos.

— Foi você que apareceu de repente. — Falei convicta. — Quer saber, não posso ficar aqui, tenho o que fazer. Tenha um bom dia.

Afastei-me dele e comecei a caminhar para longe, no entanto, seus longos dedos impediram que eu me afastasse bastante.

O simples toque de suas mãos fazia com que meu corpo perdesse a compostura. Olhei novamente para seus olhos e pude ver um brilho que não vi antes.

— Como se chama? — Perguntou curioso, franzindo o cenho.

— Isso não interessa a você. — Respondi ainda chateada.

Sem dar espaço para mais questionamentos, saí. Na verdade, eu estava fugindo. Ficar poucos minutos ao lado desse homem me fez sentir coisas que nunca senti com Miguel, e isso era estranho.

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