Capítulo : 02
Tinha acabado de perder a minha família, não tinha ninguém a quem recorrer. A única família que tinha neste momento era a minha tia, uma mulher que fazia parte da família do meu falecido pai. Estava aterrorizada, chorava sempre que tinha oportunidade de chorar. As pessoas vinham cumprimentar-me a casa, os amigos da minha mãe e os amigos do meu pai estavam dispostos a fazer tudo para que eu me sentisse muito confortável, para que nada me faltasse, mas apesar do seu amor, continuava a sentir-me sozinha.
Uma semana depois......
Não sabia como o fazer, mas sabia que tinha de fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para honrar a morte dos meus pais. Estava no meu quarto quando recebi a visita da única pessoa que me restava e fiquei muito feliz. Mal sabia eu que era o demónio em questão que vinha a minha casa ou que vinha destruir a minha vida.
Brayane, estás aí? Estive a falar com o meu marido e gostaria que viesses ficar connosco. Estás sozinha nesta casa grande, já é demais para ti, não tens que te preocupar, toda a herança do teu pai é tua por direito, nós vamos fazer com que tudo esteja seguro para ti. Eu alugo a casa ou, se quiseres, podemos confiá-la a algumas pessoas até cresceres e te tornares um homem, o que já és.
Ouvindo-o, pensarias que era um anjo, um anjo que veio dar-me uma mão, mas eu estava feliz na mesma. Levantei-me e atirei-me para os seus braços. Sempre tive medo do que sou hoje, medo da minha vida sexual ou do facto de nunca ter mudado. Mas os meus pais ensinaram-me a humildade.
Vai fazer as malas, vamos para casa. Não te preocupes com a escola, eu deixo-te lá todas as manhãs.
Obrigada, tia. Eu gritei
Para uma criança como eu, era uma alegria estar reunida com outro membro da família. Fui fazer a minha mala e segui a minha tia até casa dela.
Ah, esta casa, esta casa onde vou escrever uma nova história, esta casa onde vão ver em poucas linhas o meu maior sofrimento ao lado desta mulher. Quando cheguei, ela colocou-me num quarto muito grande, ainda maior do que aquele em que eu estava do outro lado. Mas isso não é razão porque eu tinha dois quartos em casa dos meus pais.
Pus-me à vontade. Deixem-me falar-vos um pouco da minha tia, têm de a conhecer brevemente porque é muito, muito importante e, se não a conhecerem, seria muito difícil para mim contar-vos alguma coisa sobre ela.
A minha tia é uma mulher muito alta, que não faz jejum nem fica acordada toda a noite. Tem o tipo de aparência física que faz sonhar as nossas irmãs mais novas e as nossas jovens mães. Olhando para ela, parece o retrato escondido do meu pai, mas eu não poderia comparar o meu pai com esta mulher, mesmo que a semelhança esteja lá. Os seus olhos são todos brancos, o seu nariz é um pouco pequeno como um fornilho. A sua forma? É uma mulher magra, apesar de na nossa família nunca termos engordado, a forma magra é definitivamente agravada pelos genes do nosso parceiro, diria eu. Não me vou alongar muito na sua descrição, já sabem como é esta mulher, sempre com unhas compridas e bem aparadas. O que é que eu estou a fazer? Esqueci-me de vos dizer o nome dela e o que faz. Chama-se Thérèse, não trabalha, é apenas uma dona de casa, apesar das suas qualificações, o marido preferiu que ela ficasse em casa. Pergunto-me se a minha tia me faria as coisas que vou contar lá em baixo se ele tivesse um filho? Não, acho que não, porque apesar dos seus esforços pessoais para ter um filho, não conseguiram ter um. Não sei se o problema é o marido dela ou a minha tia. Não me interessa, esta mulher não merece ter um filho. Vou amaldiçoá-los todos os dias que vir o sol ou a lua nova. Agora que já conheces esta mulher, é altura de começar com as coisas boas. Primeiro, gostava de vos perguntar uma coisa? Sei que muitos de vós cresceram com os vossos pais ou irmãos. Como se sentiriam se alguém vos obrigasse a enfiar a língua nos seus genitais? Sabem muito bem de que lugar estou a falar, é o da "vagina ou pénis". Uma vida de miséria, uma vida tão desejada que, de um dia para o outro, se torna num pesadelo pesado. Um pesadelo em que desejamos acordar, um pesadelo em que desejamos que alguém nos venha dizer "estás a dormir, acorda", mas isso nunca vai acontecer. Vamos todos sofrer os destinos desta vida. Ah, Brayane, já sofreste demais, porque é que eu sobrevivi àquele acidente se era só para vir sofrer? Mas o mais importante é que acabei por perceber apenas uma coisa: que a vida queria servir-se de mim para libertar almas inocentes que estavam a sofrer o mesmo destino e que através de mim seriam libertadas.
Como é que saí desta vida? Devo muito a este homem. Ainda não estou preparado para vos falar do meu anjo da guarda, mas vão descobrir um pouco mais tarde. E a todos aqueles que sofreram o mesmo destino que eu, homens e mulheres, peço-vos que falem sem raiva nem piedade. Não tenham medo de os denunciar, senão serão sempre os seus messias e acabarão por se destruir a si próprios. Não se deixem ficar nas mãos destes inconscientes que não merecem piedade.
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Para continuar.