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Capítulo 5- A loba perdida

Sera não esperava ir dessa maneira para a diretoria. Logo no primeiro dia, porque havia se metido em uma briga.

E agora estavam os três na sala da diretora Cordélia Dawood, e os olhos azuis da senhora de 70 anos não expressavam nenhuma felicidade.

E claro, Sera não gostou nem um pouco. Ela olhou para Karim e o menino loiro e eles não pareciam nem um pouco preocupados, como se já tivessem passado por essa situação diversas vezes.

A diretora deu um longo suspiro e a franja de seus cabelos curtos, cobriu seus olhos por um momento.

“Senhor Ramesses e senhor Rie, acho que os senhores acham que minha sala é ponto turístico para a visitarem tantas vezes.”

Os garotos olharam para baixo, envergonhados.

“Já a senhorita, senhorita Abrams. Mesmo que estivesse defendendo uma amiga, empurrar o senhor Ramesses no chão não é algo que posso deixar sem punição.”

Sera desviou o olhar envergonhada, ela não sabia como havia acontecido. Apenas que ele estava no chão, segundos depois.

“ Detenção de 2 dias para a senhorita Abrams e para o senhor Ramesses e de 2 semanas para o senhor Rie.”

“ O quê? Mas…” — Rie indagou.

“Silêncio, antes que eu aumente para três semanas. Agora, podem sair da minha sala. Exceto você, senhorita Abrams.”

Sera engoliu em seco ao ouvir que ela seria a única a ficar. Se sentiu novamente na cadeira e esperou sua punição.

Porém, não veio da senhora nada além de um sorriso gentil.

“ Fico feliz que tenha se tornado alguém que protege seus amigos, Sera. Infelizmente, não posso não te enviar para a detenção com eles.”

Sera Sorriu e escreveu:“ Obrigada, senhora.”

Cordélia a olhou com uma expressão que a jovem não conseguia definir, preocupação? Pena? Não havia como saber.

“Se prepare, amanhã será o dia em que cada aluno novo apresentará seu lobo.”

Sera sentiu suas mãos tremerem ao ouvir isso. Porém, não disse nada. Não queria abusar dessa hospitalidade.

“Não se preocupe, querida. — a mulher pôs a mão em seu ombro e sorriu.“ Você está segura aqui.” — disse, pegando o formulário da mão dela.

Ao sair, Kyria a esperava. O dia havia passado rápido e elas deveriam descansar.

Sera notou que ele olhava para ela, irritado. Não era à toa, porque uma menininha o derrubou. Mas o que ela não sabia é que algo dentro dele o impediu de revidar, temendo machucá-la.

Sera tentou se desculpar, dizendo que não tinha a intenção, mas Karim simplesmente se virou para sair dali, evitando olhar naqueles olhos gentis e bondosos.

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“Está ansiosa?” — perguntou a ruiva quando entraram no quarto que iriam compartilhar.

Sera ficou feliz em ter alguém conhecido para compartilhar o quarto. A antiga colega de Kyria havia se mudado, e por isso, ela ficou sem companheira de quarto.

“Fique à vontade.”

Sera colocou suas poucas coisas na cama de lençóis brancos e se sentou. O quarto era comum, com janelas amplas e cortinas cor de mostarda, todo o local era azul e mostarda, como as cores do colégio.

Sera não se importava muito com isso, contando que pudesse descansar. E ela se deitou, sem se preocupar em comer nada.

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Estava frio e ventando muito. Ele a arrastava com força pelo braço.

“Onde está a mamãe?” — a criança de 6 anos chorou.

“Sua mãe não pode te ajudar agora, não depois do sonífero que dei para ela. Você não acha que é uma criança birrenta demais? Querendo que sua mãe te proteja sempre? Criança fraca. Olhe o que sua mãe estéril me deu. Uma criança inferior e uma mulher que chora por tudo.”

A menina tentou se soltar, mas o homem de barba era alto e forte, ela não era párea para ele.

Ele continuou a puxar até chegarem a uma pequena cabana onde vivia a ânsia da alcateia. Uma senhora de pele morena e cabelos longos e brancos presos em tranças.

Ela se curvou diante dele.

“Como posso ser útil ao alfa da alcateia?”

“Preciso que remova a loba dessa garota.”

A mulher o olhou, surpresa. Sem acreditar no que ouvia.

“Sinto muito, senhor. Mas, talvez, eu não tenha ouvido direito.”

“Remova o lobo dessa menina, se não sua família é a próxima.”

E com tristeza no olhar, a anciã o fez. Sera foi posta em um círculo com desenho de todas as fases, a lua e a estátua da Mãe em um longo vestido com lobos ao seu lado, a frente do desenho.

Sera foi colocada ali e a anciã começou o processo. Enquanto falava, a menina sentiu seu corpo se contorcer. Ela gritou e gritou, suas veias queimavam e seu corpo e ossos doíam. Seu corpo se dobrou em forma de U e a menina sentiu algo ser removido dentro dela, como se fosse um pedaço da alma.

“Pare!. Pare! Mamãe, me ajuda… Mamãe…” — ela gritava com lágrimas nos olhos.

Porém, ninguém veio ajudá-la.

Sera acordou, assustada e com medo. Ela não conseguia respirar. Era sufocante se lembrar daquilo. A dor havia voltado ao seu corpo. A Jovem quis gritar, mas sabia que era uma dor irreal.

“Sera, tudo bem? Você dormiu a noite toda. É hora de ir.”

Ela se acalmou. Respirou fundo e se apressou ao vestir o uniforme, sorte que não precisava pagar por ele.

Durante toda a refeição, Sera pensou na vergonha que passaria em não conseguir se transformar.

Enquanto Kyria a guiava em direção à clareira, Sera pensava em diversos planos. Porém, nenhum deles teve um resultado satisfatório.

Ela apertou os dedos, marcando as mãos durante todo o trajeto, se sentindo nervosa.

Ao chegarem na clareira, havia uma mulher no local, a professora Sue Adams, de pele negra e cabelos ruivos.

“Hoje, os novatos apresentaram seus lobos. Os lobos costumam se apresentar aos 6 anos, então nada disso deve ser difícil para vocês. Só precisamos analisar seu nível de força.”

Sera engoliu em seco, ela seria expulsa ao não demonstrar nenhuma força?

Não havia muitos alunos novos. Apenas Sera e mais três. Uma menina loira, um garoto negro e um coreano.

A clareira era um lugar acolhedor. Sera pôde tirar os sapatos e sentir o frescor da grama e respirar o ar puro para se preparar.

O que ela não esperava era um amontoado de estudantes observando tudo.

“Não fique nervosa, os veteranos sempre nos assistem.” — Kyria disse.

Claro que aquela informação não a ajudou em nada e apenas a deixou mais nervosa, apertando os dedos com as unhas até sangrar um pouco. Principalmente, ao ver que Karim estava lá a observando.

Ela desviou o olhar e focou nos novatos. Cada um se transformou perfeitamente e Sera imaginou a vergonha que seria apenas ela falhar.

Sem opções, ela deu um passo à frente. Fechou os olhos e respirou fundo.

Sera chamou por sua loba. Pediu que ela viesse a ela se estivesse ainda ali. E algo surpreendente aconteceu. Ela apareceu. Uma loba marrom-claro com manchas brancas e olhos amarelos intensos.

Sera se ajoelhou diante daquela visão, porém, a loba parecia machucada. Ela andou devagar até a jovem mulher, porém, quando Sera a tocou, uma expressão de dor veio ao seu rosto.

A loba se afastou e o corpo de Sera se contorceu, como havia acontecido quando criança. Ela queria gritar, no entanto, sua voz não saia.

A loba desapareceu e os olhos de Sera ficaram amarelos, mas ela não se transformou. Apenas gritou interiormente sem emitir nenhum som. A dor daquele dia veio para seu corpo e, quando não aguentava mais, ela desmaiou.

A última coisa que sentiu foram braços fortes a pegando.

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