Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 2

— Teremos um momento de descanso, se você tiver algum pedido especial poderá comunicá-lo ao nosso excelente pianista George. -

Larguei o microfone e gravei uma música de fundo para me fazer companhia.

Minha garganta está um pouco seca depois de tocar seis vezes peças confortáveis, mas vivas.

Aproximo-me do balcão e procuro a figura que vislumbrei no palco, decepcionado ao ver sua fuga.

—Um martíni, por favor. — A vantagem do trabalho extra é que pelo menos a bebida fica por conta da casa.

Sento-me no banquinho e brinco com a azeitona na xícara, quando um homem se senta à minha direita.

—Alguma vez lhe disseram o quão bom você é? — Pelo canto do olho olho para o meu interlocutor.

A linha do cabelo recuando, fina, um toque de penugem branca em sua barba bem cuidada, mas ele certamente não é minha sombra misteriosa, já que eu só quero fugir dele.

- Suficiente. — Tento fazer com que ele desista de qualquer tentativa de aproximação, com poucos resultados.

— Você sabe, eu poderia lhe oferecer um emprego de tempo integral no meu hotel em Nova York. — Vejo ele tentar tocar meu braço. Levanto-me com o copo e me viro para ele.

— Estou satisfeito aqui. Obrigado pela oferta, infelizmente terei que recusar. Aproveite o resto da noite. — Dizer que ele está bravo é um eufemismo, mas basicamente evitei ofendê-lo dizendo que teria preferido trabalhar para Dobby, o elfo de Harry Potter, em vez de um canalha como ele.

Termino o martini e vou em direção ao palco, quando alguns gritos chamam a atenção de todos.

Uma mulher grita em pânico, enquanto o homem ao lado dela aperta a garganta, sacudindo-se e ficando vermelho.

- Um médico! Por favor, chame um médico! -

Sem hesitar, me aproximo de várias pessoas cercadas pelo local. - Saia do caminho - alcanço o homem e o agarro por trás, mas antes que eu possa iniciar a manobra de Heimlich, a mulher gritando puxa meu braço. —Tire as mãos do meu marido, você não é médico! — Com muita calma, dado o pouco tempo, empurrei-a com força, fazendo-a recuar contra outro senhor.

Dobro a mão com o punho fechado e coloco-a com o polegar achatado no abdômen, na área entre o esterno e o umbigo. Com a outra mão, agarro o punho e faço uma série de empurrões rápidos e profundos para cima, até que o objeto que bloqueia as vias aéreas seja expelido.

Um caroço de azeitona... teria sido uma morte digna de primeira página do jornal local.

Ele começa a respirar novamente, mas eu o faço sentar em uma cadeira e pressiono dois dedos perto de seu pescoço, sentindo seu coração bater. Estabilizo sua regularidade, entrego-lhe um copo d'água e peço que beba devagar.

- Obrigado... -

—Você comeu mais alguma coisa além daquela azeitona? -

—N-não—

— Você sente algum sintoma de náusea ou tontura? -

— Sinto uma leve dor de cabeça. -

Ele me olha quase assustado, pelo tom com que faço minhas perguntas.

— Aconselho você a ir ao médico do hotel, só fazer um check-up para ter certeza, e receitar algo para sua garganta, você pode sentir um leve desconforto na cavidade oral nesses dias. -

— S-sim, eu vou. — Dou-lhe um sorriso brilhante, olho para sua esposa fazendo-a desaparecer e abaixo a cabeça conscientemente, provavelmente me sentindo culpada.

Pessoalmente não o acuso, à primeira vista eu também poderia ter impedido qualquer um que tentasse ser um bom samaritano, mas o médico não estava na sala então a única opção era confiar.

Volto ao palco e sorrio para a sala novamente.

— Depois deste pequeno incidente espero que ainda possam desfrutar de boa música e lembramos aos nossos clientes que tenham cuidado com as azeitonas, elas têm caroço. -

A manhã, por mais que eu tentasse, era sempre a pior parte do dia. As primeiras duas horas foram traumáticas. Depois de chegar tarde na noite passada, ele só conseguiu dormir cinco horas. Em comparação com a rotina normal também eram muitos, mas o cansaço era difícil de esconder.

— Daniela, hoje você fica com os quartos de a, a suíte também está inclusa, tome cuidado se precisar de ajuda, tentarei entrar em contato com você assim que terminar. -

Welma era realmente uma governanta perfeita. Ele nos orientou meninas, e veio nos conhecer, e era raro encontrar gente assim, ele sabia de alguma coisa com todo o trabalho que tinha feito e ainda faz.

Pego um carrinho, que contém os produtos, o cesto para lençóis sujos e a seção para lençóis limpos.

Chego no primeiro, verifico se a balsa está pendurada na porta, pego as chaves dos quartos que me foram atribuídos e saio com minha escada.

Troco os lençóis, limpo o banheiro, rezando para não encontrar nenhuma surpresa desagradável, como camisinhas entupindo o vaso sanitário ou um lago de toalhas secando o chão, e faço o mesmo com os outros até a suíte.

Consigo me virar com o tempo, depois disso terei que descer até a lavanderia para descarregar tudo e ir para o spa.

Sempre olho o cartão antes de entrar.

Quem sabe se um dia poderei me dar a esse luxo, gostaria de levar Eleonor para lá. Já posso imaginá-la olhando em volta com os olhos bem abertos, ela se sentiria como uma princesa trancada na torre mais alta do castelo.

A vista é magnífica, quase parece que você está suspenso no céu, olhando para o mar.

A cama é enorme e o hóspede do quarto a deixou quase intocada. Ele ou ela deve ser deixado sozinho.

Há uma jacuzzi ao pé da cama com uma televisão de oitenta polegadas embutida na parede. Em suma, um mini cinema privado.

Dois sofás dispostos em semicírculo e ao centro, em torno de uma mesinha com vários licores.

Foi usado um copo, mas o gelo dentro dele estava quase derretido. Mini bar, mesa de sinuca e todo tipo de comodidades.

Cantarolar, enquanto descubro a cama para trocá-la e menciono alguns versos mais incisivos, até ouvir uma porta se abrir. Fico imóvel, rezando para ter imaginado isso.

— Você tem o hábito de trabalhar com salas ocupadas? -

Xingamento. - Eu não... - Me viro e, meu Deus, sinto minhas bochechas queimarem. O homem à minha frente está encostado no batente da porta, com uma toalha amarrada na cintura, e felizmente não é um aposentado com barriga flácida.

Lembro-me de como respirar, mas meu olhar vagueia pelo corpo dela.

Seus braços tatuados, cruzados sobre o peito, destacam seus músculos, mas um toque de tinta também pode ser visto nas laterais dos quadris. O abdômen ainda está molhado e algumas gotas descem, empurradas pela força da gravidade, em direção à sua virilha, sulcando os sinais do V, mas o rosto... Teria sido perfeito, masculino, com uma rara heterocromia, o que lhe conferia um olho castanho, quase preto, e outro verde, mas com cicatrizes feias, como marcas de lâmina de faca, cruzavam a clareira, partindo da testa até parar uma logo acima da sobrancelha e outra ao lado do globo ocular.

Tem mais, tiros e outros cortes.

—Você está gostando do show? -

Merda, aparentemente o tempo deve ter parado só para mim.

— Iô-iô, a placa, aqui... — Respire fundo Meg, você estuda em Harvard e está entre as melhores alunas, seu vocabulário com certeza é mais rico que isso.

— Você quer que eu use alguma coisa? – Fanfarrão.

— Seria legal, mas estou prestes a sair da sala para que você possa ir com calma. -

—Interessante, cantora e heroína à noite e faxineira voyeur pela manhã? -

— O que... eu não sou voyeur! -

Ele abre um sorriso e covinhas se formam nos cantos da boca, como se seu charme não fosse devastador o suficiente sem ele.

— Parece-me que você está demorando demais. -

Irritado, jogo os lençóis no carrinho.

— Desculpe se me pegou de surpresa, agora vou te deixar em paz e espero não cometer o erro de voltar para dentro com você. -

—Isso é uma ameaça ou você quer voltar para o meu quarto de novo? — Irritante, acho que já disse isso.

— Obrigado porque quero manter meu emprego, ou poderia responder de forma desagradável. -

Ele sai da porta e caminha em minha direção, alarmando cada fibra do meu corpo, parando a um passo de distância.

— Eu gostaria de conhecer esses métodos desagradáveis. Poucos conseguem ser assim comigo. -

Estou prestes a atender, mas o rádio que usamos para manter contato começa a fazer barulho e toca a voz de Welma.

—Daniela precisa de ajuda? — Estou quase tentado a dizer sim, para evitar bater, ou pelo menos imaginar bater, no homem que está na minha frente.

— Não, estou quase terminando, vou acompanhá-lo. -

Olho de volta para aqueles olhos, me surpreendendo com o contraste de suas cores. Quase parece que ele tem duas expressões em um rosto.

— Espero que você aproveite esses dias, pois certamente não tenho intenção de estragar os últimos. Tenha um bom dia e obrigado por escolher nosso hotel, se precisar de alguma coisa não entre em contato comigo, pois pode causar danos acidentalmente. — Recupero o carro, empurrando-o de tal forma que acidentalmente bati nele, mas é como voar contra uma montanha. Estou na soleira da porta quando sua voz me chama.

— Até mais Daniela, espero que amanhã de manhã a gente devolva meu quarto para você, e quase esqueci. -

Desamarro a toalha na cintura e rapidamente me viro para a porta antes que ele veja alguma coisa.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.