Capítulo 6
O que você esperava, Allen? Bufei contra o meu subconsciente e tirei um cigarro do maço, levando-o aos lábios.
"Você está atrasado", eu pulo quando sua voz vem da minha esquerda. Viro a cabeça e, não o encontrando na minha frente, o pego no colo. A apenas alguns metros do chão, vejo as pernas esbeltas de Sherli envoltas em um uniforme de líder de torcida balançando da esquerda para a direita. Não consigo conter um sorriso, ainda com o cigarro entre os lábios.
"O que você está fazendo aí em cima?"
Ele dá de ombros. "Eu gosto de estar no alto.
" "Arrogante", eu zombo, então levo o isqueiro aos lábios e acendo meu cigarro, inalando a fumaça.
Com um piscar de olhos, ela desce da parede em que estava sentada e cai em uma caixa de plástico que incrivelmente não se quebra em mil pedaços, e finalmente retorna à terra. Quando ele se aproxima posso finalmente ver seu rosto, e devo admitir que a divisória fica ótima nele, dá um ar mais rebelde ao seu rosto.
“Eu respeitei as regras”, diz ele ironicamente, apontando para o semicírculo prateado que perfura suas narinas.
-E o rostinho?- pergunto, ela abre um sorriso que nos deixa vislumbrar o outro semicírculo apoiado em seus dentes.
"Eu diria que sim", decreto, dando outra tragada.
Sherli pega o maço de Marlboros e pega um cigarro, leva-o aos lábios carnudos e acende, depois me entrega. Eu olho para ela interrogativamente.
“Tenho uma dívida com você”, explica ele, então pego o cigarro, trago e devolvo para ele.
-Como você já pode estar aqui? Subi logo após o sinal tocar – pergunto curioso.
-Eu estava no laboratório de música, as únicas salas com isolamento acústico ficam no quinto andar, por isso demorei tão pouco- esclarece minha dúvida. Eu a observo por um tempo, observando mais de perto todas as características de seu rosto. Ela é, sem dúvida, uma garota muito bonita: olhos arrebitados, nariz pequeno e francês, lábios carnudos e uma quantidade industrial de sardas nas maçãs do rosto salientes. Como eu disse, ele tem traços muito delicados, mas com algo afiado e gelado. Ele tem o que seria apropriadamente chamado de cara de vadia. É por isso que gosto.
“Você já terminou de olhar para mim?” ela pergunta, vagamente magoada.
"Eu estava percebendo que gosto do seu rosto", digo a ela, e ela levanta as sobrancelhas, surpresa. -É muito desagradável.-
-Muitas pessoas me dizem isso- ele ri, depois joga o cigarro por cima da grade.
-Não acredito- Dou um meio sorriso enquanto acendo outro cigarro.
-Bem, acredite! “Não sou tão temido quanto você”, ele brinca, mas quando percebe que franzi a testa, se apressa em se corrigir. -Quer dizer, as pessoas não têm escrúpulos em me dizer o que pensam de mim. O grupo popular gera ódio nos outros, que assim desabafam. - Ele encolhe os ombros, com expressão neutra. Como se você não soubesse...
Sherli olha um pouco para os arranha-céus, depois exclama: -Eu quero fazer alguma coisa.-
Não tenho tempo de perguntar o quê, e num piscar de olhos ela bisbilhota isso. Ele apoia os braços na borda e os levanta até que você fique escarranchado no concreto.
-Você está maluco?- pergunto surpreso, o cigarro no ar. -São pelo menos dez metros, se você cair, adeus Sherli Leroy!-
-É Leruà, não Leròi- ele me corrige com ar de cumplicidade, depois sorri maliciosamente. -O que houve, Allen, você está com medo?-
Um sorriso divertido se estica em meus lábios e eu a imito, sentando na frente dela no parapeito.
“Por que você me chama de Allen?” pergunto, curioso novamente sobre sua resposta. Já faz muito tempo que alguém não me intrigava a ponto de ser digno da minha atenção.
“Por que é o seu nome, talvez?”, pergunta retoricamente, sempre com aquele ar pedante. Reviro os olhos e jogo a bituca de cigarro no chão.
-Todo mundo me chama de James.-
-Eu não sou todo mundo.-
Sorrio com essa frase. -Touché.-
Por um momento o silêncio se instala entre nós, Sherli olha para o pátio da escola sem nenhum medo com a testa franzida, perdida em seus pensamentos.
-Oh! Trouxe uma coisa para você – lembro no último momento da garrafa de Jack Daniel's para inaugurar nossa amizade, ou sei lá, sociedade de fumantes, companheiros de telhado... Não me importa.
Ele olha para mim com curiosidade enquanto eu vasculho minha mochila, depois sorri para a garrafa. -Não podemos beber às onze da manhã!-
-Quem nos proíbe?- pergunto com um sorriso enquanto tiro a rolha da garrafa e a entrego a ele. “Em homenagem ao início… desta coisa.”
Ela pega e leva aos lábios, depois toma um pequeno gole e me devolve. -Para essa coisa!- ele ri.
Eu bebo um de cada vez, coloco a tampa de volta e coloco na mochila. Eu adoro whisky, tem um sabor muito picante e delicioso.
-Neste ponto parece certo contar uma anedota engraçada sobre minha experiência com o álcool- Sherli começa.
-Sou todo ouvidos.-
-Só bebi uma vez na vida- ele começa.
"Bem, certamente temos que remediar isso", comentou ele, incrédulo.
“Deixe-me falar!” ele me leva de volta. -Quero dizer: só fiquei bêbado uma vez na vida. Foi um... ato de rebelião, sim, eu diria. Enfim foi nojento, fiquei bêbado às seis da tarde e caminhei pelo Central Park até as oito, depois vomitei num canteiro de prímulas no Shakespeare Garden.- Comecei a rir imaginando o protagonista daquela cena um Sherli desajeitado e bêbado
.