Você é perfeita
O corpo de Sophia estava cansado e com muita sede. Ela levou uma garrafa d’água consigo, entretanto pensava que era pouco líquido depois de ter corrido quase três quilômetros até voltar para casa.Sua assistente, Keilly, estava tentando matá-la com tantos exercícios e um restrito cardápio que a deixava mais estressada que o normal.
Se pelo menos ela estivesse com alguém para, quem sabe, distrair-se ou ter uma boa noite de sexo...Isso a ajudaria a suportar tantas exigências e dias estressantes.
Só que naquele momento Soph não queria se envolver com ninguém; estava focada e tinha outros problemas.Mas tinha que admitir que um homem não saía da sua cabeça há meses.
Christian era mesmo um babaca irritante que roubava até seus pensamentos. E não era para tanto.Na noite passada o cafajeste lhe mandou uma mensagem, marcando um encontro. Ela deveria ter recusado, todavia aquela garota idiota, ainda existente dentro dela, levou-a a aceitar.
Ela voltou para casa a fim de tomar um banho e ler alguma coisa no celular, que, geralmente, era o Twitter, para depois se arrumare procurar ter estrutura emocional para o encontrar.
Sophia gostou de fazer aquele papel. Na verdade, sentiu-se como nunca antes na frente das câmeras.
Não importava o quanto Chris a irritasse ou a tivesse magoado no passado, ela gostava do maldito e tinha que confessar que ele não era tão ruim. Na realidade, a atuação dele a fez pensar que o homem não era o mesmo de anos atrás. Contudo, as câmeras desligavam e ela via seu lado safado voltar, deixando-a decepcionada.
Soph não podia mentir: aquele homem tinha o poder de mexer com as suas emoções, provocar o seu corpo e a fazerdesejá-lo até nos sonhos, que haviam setornado rotineiros.
Ela entrou no banho pensando nele, no seu corpo másculo, no seu perfume e naquele sorriso. Gostou de tê-lo beijado nas gravações. Seu objetivo, ao se tornar uma atriz, não era se aproveitar do momento e beijar algumas bocas, só que Christian era o seu amor de adolescência,o galã do momento, um homem irresistível que fazia de tudo um pouco para a levar para a cama.
Se Soph não fosse pés no chão, teria se rendido e, finalmente, aproveitado a convivência para transar com seu ídolo.Provavelmente, seria colocada como uma vadia.
Graças a Deus eu não sou assim.
Ela tentou tirá-lo da sua cabeça, pelo menos, naquele instante. Quando se sentou à mesa para tomar café, viu muitas coisas boas em cima dela, mas pouco podia comer naquela hora do dia. Frutas eram liberadas, iogurte natural e suco,porém ela gostava de uma refeição bem mais calórica:um café quentinho, um pão, um sanduiche... Já fazia muito tempo que ela não comia algo realmente do seu gosto.
Hollywood era cruel na maioria das vezes, e sua assistente pessoal, comandada pelo agente, faziaSoph sofrer com restrições e exercícios, pois se ela não andasse na linha e ganhasse alguns quilinhos, estaria fora de propagandas, desfiles e até de algum papel.Era uma droga. Apesar das partes boas de ser uma atriz de sucesso, a vida por trás das câmeras era quase uma tortura.
Ela pensava que, com Chris, as coisas também eram assim. Imaginava como devia ser para alguém que já estava nisso há anos, que começou criança.Talvez, por isso, elefosse dessa forma: tão egocêntrico e arrogante.
Muitos que estavam ali, tinham algum problema, seja na vida pessoal ou na profissional. Bebidas, drogas e sexo.E foi esse lado que Christian optou por seguir.
***
Sem querer admitir, Soph estava ansiosa para aquele encontro. Já fazia dias que não o via pessoalmente. Havia se acostumado a encontrá-lo no set de filmagem ou em algum evento relacionado ao filme.
Naquela semana haveria uma sessão de fotos na qual os dois voltariam a ser seus personagens. Ela morreria, mas não admitiria que estava ansiosa por esse dia.
Ao entrar no restaurante, Sophia logo viu algumas mulheres cochichando e tirando algumas fotos como se ninguém estivesse percebendo. Óbvio que Christian Harrison estava ali, e ao avistá-la, animou-se. Estava lindo comuma camisa básica, branca, por baixo de um blazer azul que combinava com seu tom de pele e com a calça que ele usava.
Mesmo não falando em voz alta, Sophia ainda era meio que uma fã do homem.
Por que ele tem que ser tão gato?
Poucas vezes eles tinham sido vistos juntos desde que começaram com aquele trabalho. E, na maioria das vezes, acontecia por trás de alguma câmera.Mas,ainda assim, rumores de que os dois estavam juntos circulavam pelos bastidores e fora deles.Havia até um fandom do casal.O que Sophia achou um absurdo.
Harrison nunca namoraria, ele era um safado. As mulheres sabiam disso, e não arriscariam tentar ser aquela que colocaria uma coleira nele.
—Sophia. — Ele se levantou assim que ela estava a passos da mesa.
Seu sorriso convencido fez com que ela revirasse os olhos. Por sorte,ela estava de óculos escuros, os quais tirou assim que se sentou com sua ajuda.
Esse homem está sendo muito cavalheiro. O que ele quer?
— Devo confessar que eu estava com saudade. — As palavras ditas ao pé do ouvido dela a fizeram estremecer.
Seu coração palpitou, suas mãos suaram e ela ficou nervosa, entretanto soube disfarçar. Esse cara era um poço de luxúria que ela estava sedenta para beber, só que essa não era uma boa ideia.
Chris realmente estava feliz por vê-la. A mulher tinha um magnetismo impressionante que sempre o levava a pensar:“Onde ela deve estar?”, “Com que roupa está?”,“Seu perfume ainda é o mesmo?”
No mesmo nível que Chris gostava dela, odiava-a por ser a única, desde que ele começou naquilo, a chamar a sua atenção, de fato, e a fazê-lo perder alguns minutos do seu dia imaginando seus belos olhos o comendo vivo e seus lábios ardilosos sorrindo e o provocando com palavras que ele sabia que eram falsas.
Se tinha uma coisa que Christian sabia fazer era ler os olhos de uma mulher que o desejava. Sophia era, sim, uma mulher diferente, que sabia se esquivar e resistia, porém, assim como as outras, desejava estar na cama em que ele a levaria para o paraíso.
Na verdade, ele não gostava de confessar, entretanto só havia tido sonhos eróticos com a apimentada.E, no final, sabia que não conseguiria realizar esse desejo.
—Não sei o porquê desse encontro ou o que deseja comigo. — Ela se manteve calma e olhou para o restaurante.Não tinha muitas pessoas conhecidas ali.
Óbvio que isso seria fotografado e postado em algum site que reforçaria os rumores de um romance entre os dois.
—Admita. — Ela o observou, voltando para o seu lugar. Era elegante em tudo que fazia. Harrison tinha o poder de fazê-la odiá-lo e amá-lo. — Estava com saudade de mim.
—Eu diria que desejo que tudo isso acabe logo. — Ele riu eencarou seu rosto.Ela mentia na cara dura. Os dois se entreolharam por muito tempo, em silêncio, até, finalmente,Soph falar. — O que deseja de mim?
—Tudo que você puder me dar—foi sarcástico, com um pingo de verdade.
Ele diria que tudo isso era culpa dela. Se ela parasse de ser uma menina difícil e trepasse pelo menos uma única vez com ele, Chris jurava que nunca mais perderia seu sono pensando em como seria.
— Mas vou tentar ser objetivo e sincero.
—Duas coisas que não é.Não acha que será difícil? — Estreitou os olhos, abrindo um leve sorriso.
—Sabe...Eu gosto de estar com você. —Pegou o copo com sua bebida, que havia pedido pouco tempo antes de ela entrar no restaurante, e bebeu um gole. — É a única mulher no mundo que me deixa interessado, a única que tem minha total atenção e a única que consegue me manter em castidade há mais de seis meses.
—Não exagere. — Ela se surpreendeu e pensou que,obviamente, ele havia saído com outras pessoas durante aquele tempo. — Não estamos na frente das câmeras, Chris, pode ser sincero.
—Acredite.Estou louco para foder alguém, e esse alguém é você.Outra mulher não me atrai o bastante para, simplesmente,eu te esquecer. —Pior que ele estava sendo sincero,tanto que ela viu, em seus olhos, a irritabilidade dele por estar sem sexo. Ela riu eestava se segurando para não gargalhar na frente do restaurante inteiro. — É uma piada para você?
—Sim —confirmou, ainda rindo dele. — Está admitindo que não fica com outras mulheres porque pensa em mim.Isso não é uma piada?
—Não, é trágico.Então, para de rir. — Ele se irritou. Achou que sua honra já estava ferida demais para ter que aguentar esse deboche. — Indo direto ao ponto: estou com a corda no pescoço.
—E quando não está? — Ela chamou o garçom com um aceno de mão, eChris ficou em silêncio.Aquela conversa não poderia sair da intimidade dos dois. — Uma água, por favor.—O homemlogo foi buscar o seu pedido. — Então, você quer conversar sobre seus problemas. Acha que somos amigos?
—Somos bem mais que amigos, eu diria.
Ele achava confortável conversar com ela. Acreditava que poderia dizer qualquer coisa àSoph, pois ela riria e lhe daria conselhos que, provavelmente, ele não seguiria.E tinha o bônus do deboche, que apesar de ele odiar, adorava ouvir as palavras saírem da sua boca. Até achava que era meio bipolar por conta dessa contradição.
— Mas você insiste em me deixar de bolas roxas.
—Para de botar esses pensamentos pecaminosos na minha cabeça. — Ela ficou envergonhada por realmente se imaginar pegando-as na mão e as apertando.
—Sophia — ele chamou a sua atenção, sussurrando. — Estou querendo ter uma conversa real aqui. — A morena o encarou. Achou isso estranho, e depois deixou que ele continuasse, sem mais deboche. — Meu mau comportamento está refletindo no meu trabalho.
—Só percebeu isso agora? — Não se aguentou. — Faz30 anos que está em Hollywood, e só agora percebeu isso?
—Não faz ideia de como foi começar nessa merda tão cedo. —Irritou-se. Viu que o seu tom foi exagerado porque odiava ser lembrado de tudo pelo que já tinha passado.
O garçom trouxe a água que sua parceira pediu, e ele, novamente, calou-se, pondo ainda mais dúvidas na cabeça da mulher. Quando eles estavam, novamente, a sós, ele continuou.
— Até hoje sou perseguido por todos. Tenho que ser o galã, tenho que estar em forma e tenho que ter uma família feliz para que os produtores não me botem no banco de reservas.
—Esse é o seu medo? — Levantou uma das sobrancelhas perfeitamente feitas e o encarou. — Cara, você fez diversos filmes e tem profissionalismo, apesar das polêmicas.
—Estou cansado de ser o playboy ou o herói de filmes de adolescentes.
—Está reclamando dos trabalhos?
—Estou dizendo que há rumores de que meus comportamentos, já há um bom tempo em controle, por assim dizer, estão causando burburinhos no meio artístico, e alguns babacas não querem nem chegar perto do meu nome.
—Isso é bem verdade. — Ela pensou e se lembrou de uma conversa recente. — Certo, você tem que mudar. Se está longe de polêmicas atualmente, qual o seu medo agora? O que deseja fazer para mudar? E o mais importante: o que eu tenho a ver com esses rumores?
Foi aí que ele se consertou na cadeira e a olhou com um sorriso no rosto, estilo cafajeste.Ela logo se tocou que era o alvo dele.
—As más línguas dizem que estávamos em um romance, e não estou falando do filme, apesar de ele ter relação.
—Não temos nada. — Por dentro, ela começou a imaginar diversas situações, palavras e conversas que a levariam a um final de dia bem pensativo. Era óbvio que ele tinha um plano, eesse plano usaria esses rumores idiotas e sem sentido. — O quê? Está pensando em confirmar? Sabe que não é verdade. As únicas vezes que chegamos perto um do outro foram por puro profissionalismo.
Isso não era totalmente verídico. Ela se recordou das vezes em que ficou tão empolgada e excitada, que usou do privilégio da sua personagem para o beijar, como já queria fazer há um bom tempo.
Chris não era bobo nem santo. Elejá fez o mesmo, enquanto ela sabia disso e até gostou.
—Na realidade, eu sempre quis botar você contra as paredes cenográficas e lhetascar um beijo de verdade, não aquelas falsidadesque usamos para as câmeras.E eu já vi você usando dessa desculpa para me usar como queria.
—O único pervertido aqui é você. — Ela era boa em atuar, só que com ele as coisas mudavam de tom. Christian era a sua fraqueza. — Enfim, seja lá o que estiver pensando, é melhor esquecer. Eu nunca...
—Um acordo —ele falou, sem esperar que ela terminasse. Soph parou no tempo, tentando refletir. — Todos nos amam juntos.Você é uma pessoa correta, chama a atenção, é caridosa, amada e tem uma ótima reputação.E temos química. Sinceramente, não é segredo para nenhum de nós que desejamos nos pegar sem desculpa nenhuma.
— É mentira. — Mentirosa. Ela queria isso mais do que atuar. — Não vou me meter nesse plano maluco,isso iria estragar as nossas carreiras.Iria me pôr ao seu lado, mas como acabou de citar, você tem uma péssima reputação.
—Só até a poeira abaixar.Não vou ser o Christian Harrison, só o Chris. Prometo que não vai se arrepender.
—Me arrependi de ter vindo.
—Não negue o que sente. —Irritou-se, todavia tomou o cuidado de ser discreto. — Você pode proclamar o quanto quiser que sou um idiota, safado e tudo de ruim, mas não minta sobre o seu desejo por mim.E, no final das contas, isso ajudaria nós dois. Seriamos como Brad Pitt e Angelina Jolie,só que sem a polêmica da traição.
—Acha mesmo que as pessoas iriam acreditar que somos um casal? — Ela estava nervosa.Isso não era esperado. Ele a escolheu para essa loucura? Sophia apostava que era só porque rolavaaquele boato idiota. — Christian, você é um solteiro aos 41, nunca assumiu ninguém, vive com uma mulher a cada noite, e do nada vai aparecer namorando?
—Você é a mulher da minha vida. Não vai ser difícil convencê-los disso.É inteligente, bonita, tem carisma, não tem medo de falar o que pensa na minha cara e adora fazer piadas e debochar.Sempre estou feliz quando você está por perto.O que mais quer que eu diga?
Sophia não sabia se gostava dessas palavras ou odiava. Isso significa que ele a observava, que gostava dela.
—Ainda é arriscado.Não vou me meter nisso, Christian.—Foi sua resposta final.
Ele entendia a sua recusa, embora não gostasse. Sophia tinha muito mais cabeça que ele, e ele não insistiria,já que ela o recusou.
—Certo, eu tentei. — Frustrado, encarouSoph, assim como ela o encarou.
Por dentro, lá no fundo, ela pensava no que falou e em como seria bom ter ele nas suas mãos, mas que ainda seria arriscado,mesmo que pudesse tirar vantagem disso.
Como seria ser a namorada oficial do maior cafajeste de Hollywood?