Capítulo 6
Olhei a hora, estava na hora. Tive que correr para o metrô, pular no carro com minha maleta e depois voar.
Toda vez que eu entrava em um avião, meu estômago parecia querer ser arrancado do meu corpo e da minha boca. Maldita sensação, apenas a medida do pânico que se apoderou de mim.
Uma coisa é enfrentar bandidos e outra é se entregar nas mãos de um senhor que promete nos levar em segurança, embora nunca se saiba.
Do aeroporto, a parte final da minha vingança: um telefonema para um velho amigo, embora sem me identificar, claro.
-Gostaria de saber como saem as joias contrabandeadas para a Europa? Então eu dei a ele todos os dados que eu tinha. Agora cabia a ele concluir uma investigação que o tornaria famoso e permitiria capturar um grupo de infelizes.
No dia seguinte acordei completamente tranqüilo, depois do meio-dia naquele pequeno hotel, de propriedade de um velho conhecido.
Um cara que tinha problemas com a lei e que não precisava que eu abrisse a boca sobre seu passado, que todos ignoravam em sua nova pátria.
Ao mesmo tempo, não precisava que ele falasse excessivamente sobre aquela semana de férias no exterior, diagnosticada pelo médico em decorrência da tensão nervosa provocada pela desavença com Elsa, que, como era público e notório, no bairro, ele foi morar com a mãe.
Quando a garçonete entrou, morena e saudável como uma maçã, me permiti a liberdade de acariciá-la, embora um pouco ousada e sensual.
Ele olhou nos meus olhos e quando eu pensei que ele ia me beijar, ele me deu um tapa forte que me fez ver estrelinhas, nem sempre você ganha.
Então fui até a recepção e pedi a conta. Estava tudo lá: os recibos do restaurante, dia após dia, que confirmavam que ele pelo menos fizera uma refeição ali.
À noite atravessei, desta vez no conforto de um ônibus, aquela linha divisória correndo 24 horas antes, com a boca seca e amarga, os nervos fazendo a sua parte no meu estômago delicado.
Na noite de domingo, eu estava em casa, sozinho, vazio. No entanto, achei-a muito acolhedora. Dormi até tarde e fui comprar o jornal local.
Uma agência de notícias, de Nova York, detalhou uma notícia escandalosa:
-A polícia destrói uma rede de contrabandistas e ladrões de pedras preciosas -leia a manchete, acrescentando mais abaixo- O vendedor e o gerente de segurança de uma conhecida joalheria aparecem em uma famosa clínica psiquiátrica.
Transformados nos olhos de gatos de brinquedo, eles encontram um colar de esmeraldas avaliado em um milhão e meio de dólares. Aliás, verifica-se que os joalheiros defraudaram os seus clientes milionários, suplantando o ouro e a platina das peças de ouro e prata que vendem por chumbo, razão pela qual já estão a ser exaustivamente investigados...
Eu não queria continuar lendo mais, para quê?
Eu sabia o resto da história de cor e só de lembrar dela me doía o estômago por causa da carga nervosa que carregava todo esse tempo.
Na quarta-feira, quando já me faltavam unhas para roer, apareceu o carteiro, sorridente, indolente, sem pressa, como sempre faz quando faz o seu trabalho e pelo qual é conhecido.
-Olá Pedro... chegou um pacote da cidade grande... Dizem que é um novo jogo de laboratório para detetives legais...
-Ah, isso, bem, eu já estava no comando há muito tempo...
E ali, sem poder verificar se era o mesmo pacote que eu havia enviado, bom, tive o bom senso de embrulhar tudo naquele papel especial, o homem muito mal educado ficou falando por mais de dez minutos. Ele queria saber sobre minhas férias.
Ele finalmente saiu, permitindo-me respirar fundo. Abri o pacote com as mãos trêmulas e dentro estava a amada maleta, intacta.
Dentro dela, o meio milhão de dólares que me fizeram passar por tantas dificuldades e pelos quais arrisquei tudo, minha liberdade e até minha vida.
No final, dei a Elsa um colar de esmeraldas de qualidade inferior, que me custou vinte mil dólares, ela voltou para mim e por mais de três meses vivemos nos dando paixões como pessoas desesperadas, ela feliz com seu presente e eu feliz por tendo-a recuperado. .
Não só tinha o dinheiro bem guardado, como o depositava em uma conta corrente para o futuro que me esperava, pois a partir de então planejava abrir um escritório de advocacia para exercer minha profissão, assim que terminasse os estudos.
Como vocês sabem, seis meses depois de tudo isso, Elsa conheceu um advogado que se ofereceu para casar com ela e colocou o mundo a seus pés e ele acabou saindo do meu lado, sim, ele teve a gentileza de me perguntar se eu queria me dar o colar voltar.
Obviamente não aceitei, falei para ele guardar como lembrança nossa, para mim, era o símbolo do quanto ousei fazer em um momento de extrema pressão e que me indicava que faria de novo se a oportunidade se apresentasse.
Pedro acabou de contar ao amigo Ignacio, depois de beber vários goles de uísque, numa conversa muito honesta e confidencial, que revelou a grande amizade que existia entre eles e sobretudo a confiança que tinham.
-Bem, você realmente é louco, então não me enganei em escolher você para tocar nosso negócio, você se entrega totalmente ao que faz e não se mede -Ignacio disse com sincera admiração por seu amigo e sócio, por quem Eu senti muito amor.
-Bem, você dirá... Estou pronto para embarcar nesta aventura que você me oferece.
Pedro viajou pela primeira vez a Cuba em meados dos anos 90, cheio de emoção e uma certa empolgação, pois ouvira coisas maravilhosas sobre aquela ilha, principalmente o jeito que as mulheres cubanas amam, de que se dizia Elas eram gostosas e cheias.
Durante os mais de vinte minutos que o avião da Mexicana de Aviación sobrevoou a ilha antes de seguir para a pista, ele ficou extasiado olhando pela janela a cor turquesa das águas do Caribe, que tão bem conhecia de suas frequentes viagens a Cozumel e Cancun, os arrecifes e principalmente o campo cubano, formados por todos os tons e tons de verde que se possa imaginar.
-Como é verde esta ilha -murmurou para si mesmo- não há um único espaço sem verdura, parece um grande tapete verde no meio do azul profundo das águas do mar.
Ao descer do avião, uma rajada de ar quente e úmido o fez tirar imediatamente a gravata e o paletó, para atenuar um pouco o efeito.
Por hábito, Pedro viajava sempre de fato e gravata, para onde quer que fosse, porque como dizia um amigo diplomata: "os serviços de Migração, Alfândega, Saúde e Polícia, em qualquer aeroporto do mundo, dão-lhe sempre melhor tratamento quando se usa terno e gravata", situação que o próprio Pedro já havia verificado em diversas ocasiões; e este não foi exceção.
Ao chegar à seção de Migração, dentro do prédio e já com as duas indumentárias, um agente o encaminhou para um dos filtros que dizia: diplomatas, pois além de terno e gravata sempre viajava com pastas, enquanto os demais passageiros faziam fila nos filtros para o turismo.
Onde ele teve que esperar um tempo infinito foi na seção de entrega de bagagem, que foi feita em uma única faixa que parou de forma intermitente.
Uma vez com a mala na mão, não teve problemas em passar pela alfândega e finalmente sair às ruas para conquistar aquela bela terra cubana.
Ignacio "Nacho" Luna já o esperava junto com uma multidão heterogênea que tentava reconhecer seus familiares e amigos pelas janelas que o separavam da Alfândega.
O Bom Nacho pegou na mala de Pedro e conduziu-o a um camião tipo Van com a legenda "Havanautos", a mais conhecida e prestigiada empresa de aluguer de automóveis, na altura na bela ilha da bela Cuba.
Ao entrar no veículo, Pedro distinguiu de imediato duas belas raparigas, uma delas de cabelo curto e estilizado e a outra de cabelo comprido, encaracolado, escuro e olhos verdes extraordinários, imponentes, cativantes, muito brilhantes e alegres. ambos têm tez enrugada, "cabelos castanhos" como são chamados em Cuba.
"Olha Pedro, esta é Rosa, minha namorada", Nacho apresentou, pela primeira vez.
"Estou encantado", disse Pedro com um tom amigável, educado e atencioso.
"E esta é minha amiga Célia", exclamou Rosa, apresentando a moça de lindos olhos verdes.
"Duplamente encantado", disse Pedro, sorrindo e olhando fixamente para a moça, que retribuiu o sorriso e o olhar com saudação, pegando na mão de Pedro e respondendo:
-Prazer em conhecê-lo… e bem-vindo a Cuba, garoto… faremos você se sentir em casa…
Pedro sorriu abertamente com suas palavras e sentou-se ao lado de Célia, enquanto Nacho mandava o motorista ir para o Hotel Habana Riviera.
Durante o passeio, Pedro, sem deixar de olhar de soslaio para Célia, a quem comentava certos reflexos avermelhados em seus cabelos, que a faziam sorrir de maneira especial, passou a prestar atenção na estrada, que sempre fazia quando chegava pela primeira vez a uma cidade que não conhecia, pois voltava regularmente em outra ocasião e chegava a se comportar com amplo conhecimento dos lugares que visitava.
Desta forma, e sem suspeitar que no futuro faria dezenas de vezes o mesmo caminho, identificou uma longa estrada, Boyeros, que ia do aeroporto até ao centro da cidade, passando pela Cidade Desportiva, cujas grandes ginásio coberto é visível de longe, tornando-se um ponto de referência.
O Habana Riviera Hotel era um edifício de vinte andares localizado no Malecon de Havana, de frente para o mar, no início da Avenida Paseo, que começa no próprio Malecon e vai até a Plaza de la Revolución, vinte quarteirões acima.
É um hotel que teria sido inaugurado, segundo lhe contaram, no mesmo dia da queda do regime de Batista, e por isso funciona há mais de 30 anos e continua impecável, elegante e, acima de tudo, acolhedor e seguro.
Embora, tanto o hall de entrada como os próprios quartos, como viria a observar mais tarde, denotassem falta de manutenção, sobretudo as casas de banho, embora a Cafetaria, a piscina e o Cabaret, à noite, mostrassem bastante actividade.
Nacho e seus amigos deixaram Pedro, na Pasta, a recepção, para que ele se registrasse e combinaram de buscá-lo mais tarde para ir comer, então disseram para ele se arrumar e estar pronto quando voltassem.
Depois de se acomodar e tomar um banho refrescante, por volta das seis da tarde o telefone do quarto tocou, ele atendeu de imediato pois não podia ser outro senão Nacho.
"Venha Pedro, desça rápido, estamos te esperando no saguão, estamos morrendo de fome e não vamos embora sem você", disse Nacho, em seu tom alegre e bem-humorado.
Assim que Pedro desceu, dirigiram-se para o caminhão, onibus, e Nacho mandou o motorista ir ao "La Bodeguita del Medio", um restaurante de comida típica cubana que quem visita Havana tem que visitar; lugar onde se serviam os melhores "mojitos" da época, não só em Havana, mas em toda Cuba.
O local é composto por dois níveis, com um rooftop onde funciona um bar ao ar livre e se ouve música tropical, daquelas chamadas caribenhas, com muito ritmo e sabor antilhano.