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Capítulo 10

Fabiona entra no celeiro com facilidade. Eu a sigo e enterro meu nariz na curva de seu cotovelo.

A sala que aparece diante de mim é gigantesca e muito alta, equipada com janelas altas que não podem ser alcançadas, exceto por uma escada. A sala é bem iluminada e a temperatura interna parece perfeita. No final do estábulo, vejo feixes de palha e feno quase tocando o teto abobadado.

As vacas têm um único espaço comum que poderia facilmente abrigar um número de Jostibo muito maior do que os dez que consigo identificar. De um lado do recinto há um cocho onde duas das vacas matam a sede; do outro, as grades são largas para que os animais possam colocar a cabeça para fora e comer o feno espalhado pelo chão. Os demais estão fazendo isso agora mesmo, independentemente de nossa intrusão.

- Moooo! - berra outra vaca, a mais gorda de todas, a preta e branca, a única deitada no chão, e eu dou um pulo, olhando cautelosamente para Fabiona, que está prestes a abrir o portão que me mantém a salvo das feras selvagens.

- Que diabos está fazendo? - pergunto.

- Antes de limparmos tudo, vamos colocá-los para pastar - .

Fabiona vai até a vaca deitada e a incentiva a se levantar, até que ela se levanta, embora com dificuldade. Depois, em fila indiana, as vacas saem do portão e Fabiona faz um carinho em cada uma delas.

Eu, como se estivesse testemunhando uma tragédia shakespeariana, começo a me afastar. Não espero que elas me alcancem e corro para fora do estábulo, saindo com passos rápidos depois de jogar a pá no chão.

- Josy, volte aqui, eles não vão fazer nada com você! - Ouço a voz de Fabiona atrás de mim, mas não a ouço.

Apesar de meus sapatos estreitos, rapidamente diminuo a distância entre mim e a casa da fazenda e alcanço as escadas que levam à varanda. Fico olhando para ela enquanto se afasta com as vacas em direção à vasta extensão de gramado ao lado do pomar, delimitada por uma cerca de madeira.

- Que inferno! - resmungo com a intenção de criar raízes na varanda.

-Olha, elas são herbívoras.

Eu me viro e vejo Seth atrás de mim. Hoje ele está usando jeans desgastados e uma camiseta rasgada com o logotipo de uma banda de rock. Eu não fazia ideia de que ele também morava aqui.

- Eu sei. Mas, por hoje, pensei em observar e aprender como as coisas são feitas.

Ele morde uma maçã e se aproxima de mim.

- É simples. Faça o que tiver que fazer. O que você estava fazendo em Nova York? - Ele fica ao meu lado, apoiado com um ombro em uma das colunas que sustentam o telhado. Ele é um pouco mais baixo do que eu. Quem sabe há quanto tempo ele está acordado, se já ordenhou as vacas? Ao contrário de mim, ele não parece nem um pouco incomodado.

- Você se lembra do Richard Gere em Pretty Woman? - Eu lhe pergunto.

- Você foi a prostitutas? - Ele abre bem os olhos, visivelmente interessado no assunto.

Evito olhar para o céu e agradeço mentalmente à Fabiona por não ter contado a toda a cidade o verdadeiro motivo de eu estar aqui. Porque está claro que o Seth ainda não tem ideia de por que um nova-iorquino foi parar na fazenda da Mary Lo e não vou ser eu quem vai fazer com que ele descubra.

- Não! Sou COO e, assim como Gere fez, compro empresas problemáticas e depois as reabilito e revendo.

"Isso deve ser interessante... "Seth pisca, dando-me a impressão de que não está entendendo muita coisa.

- Basicamente, estou no ramo dos negócios. Meu trabalho é comprar empresas que estão à beira da falência e... - Estou prestes a explicar melhor o conceito, mas a voz de Fabiona me interrompe.

- Josy Wimpy Carderon, volte aqui agora! - ela grita para ser ouvida.

Eu rosno de irritação. Se eu fosse outra pessoa em seu lugar, saberia exatamente como destruí-la pela confiança que ela conquistou sem que eu a tivesse dado. Mas, infelizmente, é apenas Fabiona, uma chata do acampamento que recebeu a tarefa de me exaurir fisicamente. E quem ordenou isso foi a única pessoa no mundo a quem eu nunca recusei nada, portanto, minhas mãos estão atadas.

-Seth, você está indo para as galinhas? - ela continua a gritar.

Ele levanta o braço e faz um sinal de positivo para ela.

- Estou indo, o dever me chama! - Seth avisa, dando outra mordida grande e forte na maçã antes de pular todos os degraus e aterrissar perfeitamente equilibrado no chão.

Um pouco depois, eu o vejo dar a volta na casa da fazenda e depois desaparecer de vista.

- Josy! - insiste Fabiona, fazendo sinal com uma das mãos para que eu me junte a ela.

Eu suspiro. Estou exausto, não dormi muito na noite passada e não sei quando poderei ter uma boa noite de sono.

Desço as escadas e volto para Fabiona, para não ouvir mais uma vez seu chamado irritante.

- Não sou covarde - rosno na cara dela antes de entrar no estábulo com indiferença. - Meu Deus, o fedor é insuportável! O que diabos você está dando de comer a essas vacas, os ratos mortos? - pergunto, mal conseguindo conter a ânsia de vômito.

Fabiona me devolve a pá e me convida a entrar no espaço onde se concentra uma quantidade considerável de esterco.

- Não é culpa do esterco que o fedor seja tão intenso. "As bactérias que decompõem a matéria orgânica liberam compostos como amônia e sulfeto de hidrogênio, que são responsáveis pelo cheiro", explica ela.

- Nossa, você já estudou a merda de vaca? - Eu ri sem tirar os pés do chão, com os olhos ardendo por causa do fedor intenso.

- Sou formado em agricultura, biologia, química orgânica e tecnologias agroalimentares. Mas meu sonho sempre foi diferente", admite ele, levando um carrinho de mão para dentro do recinto. Percebo um tom melancólico em sua voz e decido não fazer piadas com ela.

- O esterco vai no carrinho de mão? - pergunto, já que ela começou a limpar com a pá.

- Sim, vai. Depois, o Sr. Moore vem buscá-lo, transforma-o em fertilizante e depois o vende", explica ela. - Venha cá! -

Achei que ele tinha se esquecido disso e que me perdoaria, mas a verdade é que o anão malvado não vê a hora de me ver "em ação".

Chego até ele, com cuidado para não pisar na merda, mas é quase impossível e uma bota afunda na lama.

Não sei exatamente como, mas consigo controlar a raiva que ferve dentro de mim. Retiro o pé e me forço a manter a calma. Um mês e meio passará rapidamente.

- Droga, meus olhos estão lacrimejando! - Com o estômago revirando, pego uma pilha de merda mefítica e a transfiro para o carrinho de mão.

- Quando você bebe leite e come vários derivados, seus olhos não ardem? - pergunta Fabiona, raspando o chão para juntar a quantidade Jostibo de esterco em um só lugar, ou seja, perto de mim.

- O que diabos isso tem a ver com o assunto? Existem pessoas adequadas para fazer esse trabalho. Eu não sou uma delas - .

- Na vida, nós nos adaptamos ao que o destino coloca à nossa frente - .

- Às vezes, é preciso encarar o destino de frente e superar seus medos - digo, lembrando-me do momento em que, logo após me formar, não me senti capaz de trabalhar ao lado de meu pai. Ele é poderoso, nasceu para ser um líder; os funcionários se prendem a seus lábios, confiam nele e o respeitam.

Segui seus passos porque não tinha outra opção. Ele sempre traçou a linha do meu destino para mim e eu nunca resisti porque, em meu coração, nunca quis decepcioná-lo. Com o tempo, acostumei-me à minha função e gosto do meu trabalho, mas se alguém me perguntasse qual era o meu sonho quando criança, eu não saberia o que responder. Desde muito jovem, eu sabia que trabalharia na empresa que meu pai fundou do zero e nunca deixei minha imaginação criar cenários diferentes.

- Não é fácil fazer isso. Não se você mora por aqui", diz Fabiona, enquanto despeja uma grande quantidade de esterco no carrinho de mão que se enche lentamente.

- O que você gostaria de fazer quando não estiver ocupado coletando esterco? -

"O barbeiro", diz ela simplesmente, depois pega as alças do carrinho de mão e sai do estábulo.

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