Capítulo 7
Felipe entrou em casa correndo como sempre fazia depois de voltar da escola, subiu as escadas na mesma velocidade em que entrou em casa, seguindo para o seu quarto, cuidou de sua higiene pessoal, saiu do banheiro com os cabelos molhados pingando água em sua blusa de um super herói muito famoso entre as crianças cujo Valentina não sabia o nome.
Valentina que estava distraída esperando que o garoto saísse do banheiro para que se apresentasse ficou boquiaberta quando percebeu que o garoto era um xerox de Aslan.
— Quem é você? — Felipe perguntou tentando entender o porque tinha uma mulher sentada em sua cama, o pequeno a observou, ela não usava uniforme de empregada, ele se preparou para sair correndo, pois estava com medo da mulher que o encarava como se estivesse vendo um fantasma.
— Sou Valentina, sua nova babá! — Valentina disse em um tom doce antes que o menino saísse correndo do quarto.
Emburrado, com raiva, e triste por seu pai não pensar nele um minuto sequer, além, é claro, de não o escutar quando disse que não precisava de uma babá. Ele já tinha 8 anos, não precisava de uma babá 24 horas por dia. Felipe desceu as escadas se jogando no sofá, cruzando os braços fez bico de frustração. Valentina desceu as escadas logo atrás do garoto, ele estava chateado, não com ela, pelo que pôde perceber, mas sim, com seu pai.
Valentina se aproximou de onde Felipe estava se sentando ao seu lado.
— Felipe, posso te contar um segredo meu? — Valentina perguntou depois de um tempo pensando no que poderia dizer para o garoto ter mais confiança nela.
— Pode! — Felipe afirmou ainda emburrado. — Eu não quero uma babá.
Ele sussurrou a última parte, entretanto, Valentina escutou, mudando completamente o que iria dizer ao menino.
— Eu também não queria estar aqui. — Valentina confessou surpreendendo Felipe que passou a olhar com curiosidade. — E aqui estou, pois preciso trabalhar e pagar o aluguel de onde moro.
— Gostei de você, Valentina. Posso te abraçar?— Felipe perguntou com os olhos brilhantes. Nenhuma das babás anteriores tinham sido honestas com ele, só queriam saber de seu pai o tempo todo.
“Tio Tomás estava certo, eram um bando de sirigaitas!” Felipe sorriu enquanto a frase que seu tio postiço sempre dizia quando sabia que ele tinha expulsado mais uma babá que Aslan havia mandado contratar.
— Pode, vem cá me dar um abraço bem apertado. — Valentina respondeu aliviada por ver o menino desemburrar e que tinha aberto um lindo sorriso. Ela o abraçou sentindo algo que não sabia bem o que era, entretanto, sabia que era algo muito bom.
— Agora podemos ir à biblioteca escolher um livro para nós lermos enquanto não dá a hora do almoço. O que você acha? — Valentina sugere para Felipe que viu sua felicidade indo embora por completo.
— O papai não me deixa entrar na biblioteca. — Felipe respondeu tristonho, saiu do abraço de Valentina, pegou a mão dela a guiando para seu quarto, mesmo encucada com o motivo de o garoto não poder entrar na biblioteca aceitou ser levada para o quarto dele. Ao entrarem no quarto Valentina reparou que no canto esquerdo uma estante repleta de livros infantis.
Agora, menos ansiosa para conhecer o menino que ficaria responsável, pôde reparar no quarto dele, a decoração era linda, entretanto, sóbria e minimalista. Tudo tinha o seu lugar, ela achou que mais parecia um quarto de adulto, parecia que Felipe nunca tinha tirado nada do lugar.
“Então é por isso que ele não deixa o filho entrar na biblioteca.” Valentina pensou enquanto era arrastada pelo imenso quarto.
— Sente aqui. — Felipe disse apontando para uma poltrona, ela sem saber direito o que fazer se sentou, ele sorriu satisfeito por sua babá ter feito o que ele havia sugerido. — Agora vou escolher um livro para a gente ler.
Felipe que estava na sua frente andou em direção a estante e escolheu um livro que Valentina como futura pedagoga julgou grosso para a sua idade, o livro tinha por volta de 250 páginas, entretanto se estava ao alcance do garoto era porque ele já o havia lido.
— Este daqui é muito bom. Eu li esse livro cinco vezes. — Felipe disse estufando o peito demonstrando o quanto estava orgulhoso consigo mesmo. — Vamos fazer assim, eu leio um capítulo e você lê o seguinte.
Valentina simplesmente concordou com a cabeça de tão chocada que estava, Felipe era um amor de pessoa além de ser aparentemente um garoto com uma inteligência fora do comum. Ele se sentou ao seu lado, abriu o livro como se já estivesse acostumado a fazer tudo sozinho, folheou o livro até chegar no capítulo um começando assim a leitura.
“Graças aos céus consegui o emprego dos sonhos!” Valentina pensou em uma comemoração interna. Ambos não perceberam o tempo passar distraídos com a história, somente se deram conta de que horas eram quando escutaram batidas na porta que se encontrava aberta. Valentina ergueu o olhar do livro que lia em voz alta vendo Ella, a governanta.
— O almoço do Jovem mestre está servido. — Ella disse não perdendo tempo.
— Já falei para você parar de me chamar assim, eu não gosto. — Felipe disse mesmo sabendo que a governanta não pararia de chamá-lo assim. Ele revirou os olhos se levantando passando vagarosamente por Ella que não disse uma palavra sequer.
Valentina seguiu os dois mais atrás envolta em pensamentos se recordando de sua infância que não foi nada fácil, ela e o irmão comeram o pão que o diabo amassou com seu pai alcoolista que sempre agredia os filhos quando estava sob efeito do álcool e sua mãe conivente com tudo que ele fazia.
Depois do almoço, a rotina de Felipe seguiu seu cronograma normalmente como qualquer dia da semana. Ela nunca acharia que uma criança pudesse ser tão responsável e centrada aos 8 anos de idade.