CAPÍTULO 4
Nicolas entrou em sua sala naquela manhã, sendo seguido pela sua renomada assistente e secretária.
— Senhor Santinelli, você terá uma reunião em 40 minutos com seu pai e dois advogados de sua família.
— Hm – Murmurou, sentando-se em sua cadeira confortável acolchoada de couro marrom.
— E em menos de 2 horas terá outra com os Farias.
— Ah essa, eu tenho uma surpresa para essa reunião – Sussurrou ele quase inaudível, mas o suportável para ela escutar. — Quero que Rafael vá em meu lugar.
— O quê, senhor? Mas é uma reunião extremamente importante – Ruborizou ela, mas de raiva e medo de algo dar errado.
— Eu sei.
— Por isso espero que o senhor vá.
— Rafael é competente, sabe o que faz. – Ele disse dando um sorriso de canto capaz de encharcar a calcinha da secretaria e induzindo-a ao pecado profundo.
— Perdão, senhor Santinelli... – Ela se recompôs ajeitando o decote. — Mas ele é um idiota.
— Não completamente – A voz bonita e adorada de Emy preencheu o lugar, Nicolas a encarou com certo desejo e reverência, afinal era sua amiga e sócia há muito tempo.
Emy tinha seus certos encantos, mas Nicolas não a via como mulher o suficiente para levá-la a algo mais profundo do que uma amizade.
— Nós deixe a sós. Preciso falar com ele – Ordenou à mulher que deu uma última olhada para Nicolas balançando-se em sua cadeira de couro, e saiu rapidamente.
— Não vou repetir – Ele a observou fechar a porta, seu olhar era sério desejando poder enforcá-la, odiava seu jeito de tratar seus subordinados — Não gosto que a trate assim.
— Pouco me importa – Ela apoiou-se sobre a mesa deixando Nicolas admirar seu decote explícito. – Não mande Rafael àquela reunião, precisamos dos Farias como sócios.
— Tenho dois Farias trabalhando para mim, é apenas para dizer sim à questão.
— Eu não trabalho para você, eu trabalho com você. É diferente – Ela sentou sobre a mesa deixando sua saia levantar um pouco. — Precisamos sair Nicolas, juntos. – Ofereceu-se como fazia todas as manhãs.
— Eu sei... – Ele sorriu. – Por isso tenho Rafael, que está atrasado. Filho da mãe! – Disse o moreno empurrando a ruiva da mesa e começando a mexer nos papéis ali — Você tem algo para fazer não tem? – Perguntou-lhe.
— Sim. – Respondeu ela com raiva, mas saiu sem dizer uma única palavra a mais.
Mais uma vez sozinho naquela sala, as lembranças e a bela imagem da garota da noite passada veio com força em sua mente. Era bonita demais para ter sido deixada naquele lugar.
O mais incrível ainda, era ainda está pensando nela. — Impossível. Eu não sou assim – Sorriu ele e tornou a batucar o lápis na mesa de madeira preta da melhor qualidade. Ele sorriu de canto, seus olhos brilhosos e cativantes insistiam em ser olhados mais uma vez, de ser adorados e venerados por mais uma delicada e amada vez.
Ele iria voltar a aquele lugar.
— NICOLAS, MEU AMIGO. – Rafael arreganhou a porta assustando o moreno, tirando-os de seus devaneios cheios de desejo e malícia. —PORQUE VOCÊ JOGOU ESSA REUNIÃO PARA CIMA DE MIM? EU ODEIO DISCUTIR COM MEUS PAIS SOBRE NEGÓCIOS, EU TENHO MEDO DELES, EU VOU CEDER.
— Se fizer isso eu vou te demitir. Aí você vai trabalhar para eles – Disse simplesmente, ainda brincando com o lápis na mão.
— Nicolas... – Rafael massageou as têmporas e olhou o amigo. — Como eu odeio você.
— Esse é o castigo por você ter me levado àquele lugar asqueroso.
— Você que é abusado. Eu peguei o número que duas gatinhas se quiser um é só dizer. Vamos sair hoje à noite. Eu a convidei...
— Você não vai a lugar algum. – Nicolas disse levantando-se de sua cadeira e virou as costas olhando além dos prédios e pessoas trafegando pelas ruas de Seant. — Tenho planos hoje à noite.
— É mesmo? Com quem? – Cruzou os braços, curioso.
— Com você.
— Hã?
— Vamos voltar à boate hoje à noite.
— O QUÊ? - Respirou fundo sem acreditar — Isso tem alguma coisa haver com aquela garota de ontem? - Nicolas ergueu o olhar — Ah sim, Emelly era seu nome.
Nicolas não soube o que sentiu naquele momento, mas uma tristeza invadiu seu coração de uma hora para outra. Um sentimento de angústia, uma escuridão tão intensa e uma dor aguda devastadora apossaram de seu peito, que chegou a doer. Bufou com aquilo, ele se aproximou rapidamente da mesa para buscar um lápis e tacar em Rafael, que desviou facilmente.
Rafael olhou o amigo e depois encarou seus olhos, logo percebeu um brilho diferente, era do jeito que ele via seu pai olhar sua mãe, quando se olhavam discretamente, era como seus tios se olhavam, o mesmo brilho estava nos olhos de Nicolas. Era como se seu amigo mais velho tivesse completamente... Apaixonado?
— Não... – Ele começou. — Não é possível. Você ficou afim de alguém.
— Vai para sua sala Rafael – Ordenou.
— Não acredito Nicolas – Rafael levantou-se animado, porém dessa vez foi acertado pelo segundo lápis lançado em sua cara. — Eu vou voltar lá, e sim eu vou encontrar aquela mulher e vou trazer ela para seus braços. Entenda, você tem que namorar, tem que se divertir, já vai fazer trinta anos e nada de ter uma namorada, uma esposa, alguém para dizer “ei, estou ficando com aquela garota”. Como alguém consegue viver assim?
— Vai logo para sua sala e para de falar asneiras. – Gritou duramente e Rafael assentiu dando um sorriso malicioso para o amigo que bufou virando o rosto.
Rafael caminhou com um sorriso safado nos lábios até a porta e quando abriu ele respirou fundo. Voltou-se para Nicolas que se acomodava em sua cadeira que lhe dava tanto poder.
— Você gostou da garota e tem que admitir. Você pega ela, ou quem vai pegar sou eu. – Inflamou Rafael e correu batendo a porta.
— Mas é um idiota mesmo – Murmurou emburrado. Mas não poderia negar que seu amigo estava certo, ele havia gostado mesmo da rosada delicada e frágil que tinha visto na noite anterior.
Podia até negar o interesse repentino que sentiu por ela assim, como se ela apenas tivesse aparecido e seu coração acelerado e pedido por um abraço, um olhar, ao menos uma conversa mais duradoura? Riu de novo revirando os olhos. Demorou tanto tempo para encontrar uma pessoa interessante e agora não tira ela da cabeça? É para se sentir assim mesmo?
Tá tudo bem?