##Capítulo 02##

Alícia...

E assim, eu passei mais um ano, na mesma escola, com as mesmas humilhações diárias, que no meu ponto de vista, mesmo eles não me fazendo nada, apenas pelo gesto de me ignorar ou me olhar com nojo já é humilhante o suficiente.

E em casa meu pai está cada vez mais ruim, ele chega em casa e se não estiver tudo limpo, ele reclama, se não tiver a comida feita, ele reclama, e se eu estiver um pouco que seja distraída, ele reclama, e me bate, todos os dias, e eu só choro baixinho, não sinto mais dor porque acho que meu corpo já se acostumou, e não tenho mais hematomas aparente, agora ele me bate onde as roupas escondem, meus braços são praticamente roxos, minhas pernas cheias de cicatrizes e costas tem vergões que acredito que não sairão tão cedo!

Mas não estou reclamando, porque sei e me conformei que nada irá melhorar ou mudar, só estou esperando chegar a idade certa onde poderei me livrar disso, eu não vejo a hora de completar dezoito anos para fugir daqui, já estou até planejando a minha fuga, mas isso é segredo! Quando chegar a hora certa eu conto os detalhes.

Um ano se passou desde a última vez daquela prova, e hoje tem ela novamente, mas eu pedi a professora se eu podia fazer no horário de aula, assim meu pai não desconfiaria e poderia vir normalmente, e graças a Deus ela permitiu, e até chorei muito por isso, pois é simplesmente maravilhoso! Pelo menos uma vez na minha vida algo está dando certo!

Não avisei ele que teria a prova, pois imaginei que ele não quer que eu faça ela, então ele nem sonha que teria isso na escola. Pelo menos eu acho que ele não sabe!

Chegando na sala que terá a prova, só tem eu, pois a maioria dos alunos não estão aptos a fazer ela, pois ela é apenas para os alunos mais aplicados e eu sou uma delas. Eu posso até ser pobre e não ser bonita, mas sou inteligente! Amo ler e saber de tudo!!

_ Querida aqui está a sua prova, e você tem cinquenta minutos para terminar ok?

_ Obrigada pela oportunidade dona Suzana.

_ Não agradeça a mim Alícia, eu só entrego a prova, a pessoa responsável por te dar essa chance é a diretora da escola, a dona Meredith.

_ Ah obrigada, eu irei agradecer pessoalmente a ela depois.

_ Tudo bem, qualquer dúvida sobre a prova é só me chamar ok?

_ Tá bom!!

_ Boa sorte.

Ela senta na sua cadeira e fica mexendo em seu celular e eu fico ansiosa, mas mesmo assim eu leio tudo com muita atenção, e vou respondendo as questões mais fáceis primeiro, e as que não sei deixo para depois, e não está tão fácil assim essa prova, está bem complexa.

Passa se quarenta minutos e falta apenas uma questão, e não sei o que responder, porque envolve amor, família e proteção, e nunca senti isso, nunca me senti amada, nem protegida, e nem em família, o que eu faço?

É uma redação, onde eu preciso relatar toda a minha vida, o que eu mais gosto, o que eu faço, o que meus pais fazem, e se gosto de estar com eles, se eles me apoiam e como eles me tratam.

E sei que se eu falar a minha verdadeira história, eles vão me tirar do meu pai, e me deixar num abrigo e não quero isso, porque o pouco que conheço da vida, eu sei que lá no orfanato é muito pior. Pelo menos é o que já me falaram.

Tenho apenas treze anos e se eu ir para o abrigo, vou me livrar de meu pai, mas será que viverei em paz? Será que não será pior lá?

Mesmo que meu pai me bata todos os dias, às vezes me deixa sem refeições ou me obriga a fazer as coisas, mesmo assim ele nunca abusou sexualmente de mim ainda, e tenho medo disso, a família que me adotar (se caso isso acontecesse) pode ter isso!

Sei que é errado esse meu pensamento, mas realmente eu não quero sair do ruim e ir para o muito pior.

Então irei mentir nessa redação! Infelizmente irei colorir a minha história, porque ninguém realmente vai me ajudar então, não precisam saber a verdade!!

_ Acabou o tempo Alícia!

_ Mas professora só faltou a redação!

_ Dez minutinhos então ok?

_ Obrigada!!

E então fiz, eu coloquei meu pai como um herói, eu o colori na verdade como eu gostaria que ele fosse, (carinhoso, engraçado, trabalhador e honesto) a minha mãe, eu coloquei como uma verdadeira rainha, eu a desenhei como a minha melhor amiga, a qual eu poderia contar para qualquer coisa, e sim eu chorei ao fazer essa redação, pois eu me senti feliz apenas com a possibilidade de um dia isso ser verdadeiro!!

Acabou meu tempo, entreguei a redação e a professora me perguntou:

_ Tudo ok? Porque está chorando?

_ Ah não é nada, mas eu sempre me emociono quando falo da minha família!!

_ Ah entendi!! Eu já vou corrigir, já que só tem a sua, e já entrego tá bom?

_ Tudo bem, posso esperar aqui?

_ Pode sim, sente se ali querida! - ela aponta para a cadeira que eu estava e fiquei ali aguardando, se passaram uns cinco minutos quando ela disse:

_ Parabéns Alícia, tirou A+!! - ela diz feliz e eu fiquei ainda mais feliz.

_ Sério? - pergunto meio em dúvida.

_ Muito sério! Amei a sua redação, e sei que na verdade não é assim a sua família querida, mas fico feliz que deseja muito ter isso, então eu te desejo que um dia possa ter tudo o que sonha. E a partir de hoje já pode se matricular na escola estadual, eu vou pedir ao seu pai para vir até aqui para autorizar a sua transferência. - quando ela diz isso meu mundo desaba, poxa vida!! E agora?

_ Professora, meu pai ele não me deixou fazer a prova o ano passado, e eu não queria que ele soubesse que fiz. E se ele souber ele vai brigar comigo, - falo chorando porque é a verdade, e ela diz:

_ Querida, olha não chora.

Eu vou conversar com a dona Meredith e vou te ajudar, só não chora. Por favor!!

Eu a abraço e agradeço e ela diz:

_ Você não merece o que está vivendo querida, olha só, o que acha de ir comigo na sala da diretora agora?

_ Pode ser. Por favor!! - saímos juntas e ela entra na sala da diretora após bater e ter a entrada autorizada.

_ Boa tarde Srta. Meredith tudo bem?

_ Boa tarde, Suzana, e Alícia o que devo o prazer da visita de vocês?

_ Bom dona Meredith a questão é que a Alícia se saiu muito bem na prova ela tirou um A+. - ela diz empolgada.

_ E isso é um problema?

_ Não, Srta. Isso é muito bom, mas o pai dela não aprovaria ela para ir estudar numa escola estadual fora da província, e ela não pode assinar por ser de menor, então estou vendo com a Srta se podemos ajudar ela nesse aspecto!!

_ Ah e agora, eu não sei. Preciso ver isso com a secretaria de educação, pois ela é de menor como você já disse, e precisa de um tutor. Mas eu vou ver se posso ser a sua tutora Alícia e até sexta-feira voltamos a conversar ok? Mas fique tranquila, daremos um jeito, eu sei como seu pai, é!! E parabéns pela sua prova, você merece tudo de bom, pois é a nossa melhor aluna da escola!

_ Obrigada Srta. Meredith, não sabe como isso me deixa contente! E obrigada Professora Suzana, sempre gostei muito da senhora obrigada!! - digo chorando e abraço as duas.

Me despeço delas e vou embora. Pois agora só preciso voltar na sexta feira para ver o que ela conseguiu resolver.

Estou indo embora, quando um carro passa do meu lado, e anda devagar atrás de mim, e isso me dá um certo medo, pois como eu disse antes, tudo me assusta, e tenho pânico. Então nem olho para trás, mas quando o carro resolve ir do meu lado, o vidro do motorista abaixa e uma mulher que reconheci ser a minha mãe, diz:

_ Oi coisa feia!! - olho pra ela e não sinto nada, apenas a ignoro!!

_ Não vai falar com a sua mamãe? - continuo andando de cabeça baixa e ela diz:

_ Daqui uns anos, irei precisar de um favor seu. - a ignoro e ela continua falando:

_ Sabe querida filha, eu não sei se quero isso, mas meu lindo "chefinho" quer muito uma virgem, e só estou esperando você crescer um pouco mais, e virei te buscar ok? - olho pra ela apavorada com essa informação e tento andar mais rápido, mas é uma burrice pois ela está de carro.

_ Não vai falar nada filhinha? O gato comeu a sua língua? - eu não respondo e ela continua soltando seu veneno.

_ Não precisa falar mesmo, para o que preciso de você será vendada ou amarrada, ou não precisará conversar e só sentir!!

_ Vai embora daqui... - tive coragem de gritar e ela começa a rir.

_ Eu vou sim, mas fica sabendo que voltarei, beijos filha e não deixa o seu "paizinho" te tocar, o Sr. Boss tem a preferência ok? Se não for mais virgem, vai ser pior pra você!!

Ela se vai e me deixa comendo poeira, mas eu fiquei com muito medo do que ela disse, será que é verdade? E agora vou ter que viver com mais isso para me aterrorizar.

Chegando em casa, meu pai está jogado no sofá, babando.

Entro em silêncio pois não quero apanhar por ter atrapalhado o sono dele.

_ Onde você estava Alícia? - ele pergunta gritando porque eu já estava no quarto.

_ Na escola! - grito de volta.

_ E porque demorou? Já é 19:00h isso é hora de chegar em casa?

_ Desculpa pai, é que a Maia, passou por mim, e me atrapalhou, eu não tive culpa.

_ E o que aquela vagabunda da sua mãe queria?

_ Dizer que o Sr. Boss queria me buscar.

_ Pra quê? Você não serve pra nada, é feia, magrela, suja, ridícula, porca e até para foder não presta!! - começo a chorar porque ele já tinha me dito isso, mas mesmo assim dói ouvir.

_ Porque está chorando sua ridícula? Vai limpar a casa vai, não serve mais pra nada, e acredite um dia eu quase tentei te ver como algo melhor, só que é tão feia que não tive coragem!!

_ Tudo bem, com licença pai.

_ É educada pelo menos!! Seria uma ótima submissa um dia, isso se ficar mais bonitinha o que acho difícil, porque se não é bruto tentar gozar te olhando!! - não faço a mínima ideia do que ele está falando, mas ele ri ao dizer isso, então acredito que seja algo engraçado!!

Eu não sou estúpida, mas ainda sou uma criança, e não tenho curiosidade sobre coisas de adultos, principalmente sexuais, eu sei o que é, e o que abrange algumas coisas pois tenho aula de ciências humanas, mas não me interessa saber disso, pelo menos não ainda! Acredito que só preciso me previnir para não ser assediada ou até mesmo estuprada.

E até gosto de saber que ele não me vê como uma possível pessoa para sentir vontade de gozar, eu sou a filha dele, e isso é errado.

Mas estou com mais medo do que antes.

Pois estou ficando mais encorpada, e logo faço quinze anos e sei que a mulher fica mais feminina, então tenho que me cuidar para não chamar a atenção dele, digo isso, porque acredito que pessoas que tem a mente suja, não precisa muito para a imaginação fluir, então é só eu me vestir igual a um menino, e ele não vai se sentir atraído por mim, eu acho! Mas quando eu for embora daqui, irei ser o mais feminina possível, pois eu nunca tive nada disso, maquiagem, tênis rosa, bolsa ou até mesmo coisas de meninas, como um simples absorvente, quando estou nos meus dias, eu preciso enrolar um paninho e não ir para a escola, senão eu passaria vergonha, porque passa tudo na roupa.

E quando vejo as minhas colegas todas bem bonitas e arrumadas e os meninos olhando para elas, fico pensando se um dia terei isso.

Mas eu sou uma menina, que já passou e ainda passa tantas coisas ruins que acredito que um dia chegará a minha vez de ser feliz!!

O segredo é sonhar e acreditar nos seus sonhos. É o que eu acredito!