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Capítulo 4 - Ainda é cedo

Parte 4...

Isabela

— Meu Deus! - eu dei risada quando fui arrastada para fora pelo grupo agitado que saía do pavilhão — Gente, socorro! - dei risada alta.

Senti uma mão me puxando. Mariane ria, com o rosto vermelho de dançar sem parar, se balançando com as músicas agitadas e lentas de Tiziano. Foram quase três horas de uma apresentação maravilhosa. Esse vai ficar na memória.

— Desse jeito você vai ser empurrada de volta para o Brasil - ela disse alto e rindo — Está muito magra, Isa!

Eu sei que sou magra, mas isso não me incomoda. Meu peso sempre foi abaixo do que seria ideal para minha altura.

Eu não sou muito alta, tenho só um metro e sessenta, o que me deixa bem abaixo das duas. Em especial com relação a Angelique que é uma francesa alta e comprida.

Eu já tentei engordar para ter um pouco mais de carne e não parecer que sou tão mais nova do que minha idade, mas o máximo que consegui foi aumentar dois quilos.

Eu nunca tive problema com meu peso, mas parece que as pessoas têem. É bem chato quando ficam me colocando apelidos de propósito, para me irritar ou me diminuir. Ouvi muitos durante minha infância e adolescência. Hoje, aos vinte e três anos, eu não aceito mais isso.

Tudo bem que tem gente que fala com carinho, mas eu já aprendi a diferenciar de quando é feito por maldade.

— Meninas, ainda é cedo - Angelique diz se agarrando em nossas costas — Vamos esticar a noite - ela está bem animada.

— Não sei... - olhei meu relógio comprado há anos no mercadão de Recife.

— Ai, não seja chata e nerd, Isabela - ela diz me apertando — Vamos curtir, a noite ainda está começando.

Não sei se está começando, quando meu relógio me diz que são quase duas da madrugada.

— Na verdade quem vai começar já, já, é o dia - eu ri — Daqui que a gente chegue em casa já vai ser tarde.

— Ou cedo - Mariane diz encolhendo os ombros — Ah! Vamos sim, Isa... Por favor! - ela faz uma cara dengosa pra me convencer.

— Vamos Isabela, vamos! Amanhã é sábado. A gente nem tem aula - Angelique tenta completar.

— Eu sei, mas eu tenho que trabalhar.

— Seu horário no restaurante só começa à tarde - ela faz uma careta — Vamos, vai... O show foi ótimo, não foi? - eu faço que sim — E... Quem sabe você não encontra o seu príncipe encantado?

— Até parece! - eu dei risada revirando os olhos — Eu já estou em Roma há quase um ano e até agora não achei nenhum príncipe.

— Mas achou um monte de gostoso - Mariane diz e me cutuca — Fala a verdade! Tem ou não tem, um monte de homem de cair o queixo nessa cidade?

Isso é bem verdade. Mas ainda assim, por avisos e por observação, eu consegui me manter afastada da maioria deles que deram em cima de mim desde que cheguei.

Claro que já aproveitei para dar uns beijos e coisa e tal, mas nunca passei disso e nunca deixei que fossem muito ousados em suas demonstrações de carinho.

Os homens aqui são bem ousados e até mesmo os que são casados não se importam em tentar algo com uma mulher que eles se interessem. Pra eles isso é bem normal.

Para mim, não é. Eu não tenho frescura sobre transar, embora eu nunca tenha mesmo passado desse ponto e continuar virgem até agora, servindo de piada para as amigas que transam até no teto.

Pra que eu deixe mesmo de ser virgem e me acabe na cama com um homem, ele tem que ter algo muito diferente e interessante para me chamar a atenção ao ponto de pular na cama com ele.

Por enquanto, alguns beijos e mãos bobas aqui e ali já estão valendo o tempo.

— Ok, ok - eu revirei os olhos — Tudo bem, a gente vai - as duas deram gritinhos me abraçando — Mas a gente não pode passar de três horas. Lembrem que a gente vai ter que voltar e o caminho é longo.

— Certo, a gente promete - Mariane disse e pegou minha mão — Vamos ver se a gente consegue um táxi ou um uber. Eu sei de um barzinho ótimo e que faz muito sucesso.

Como eu não sou de beber e pouquíssimas vezes na vida fui em bares, deixo por conta delas que saem mais do que eu. Minha onda é mais um cinema ou teatro e de vez em quando, uma exposição de artes que faz bem ao meu espírito.

** ** **

— Mariane... - eu parei na calçada olhando a casa em frente, com uma fila grande de gente de todo tipo esperando para o porteiro liberar a entrada — Isso aqui não é um bar - fiz um gesto apontando — É uma boate.

— Eu sei - ela sorriu — O bar fica lá dentro e você vai gostar muito, eu garanto.

Angelique saiu na frente quase correndo e atravessou a rua, se misturando com as pessoas que faziam uma roda em frente aos dois porteiros, tentando entrar no local.

Eu me senti um pouco por fora e notei que muitos ali estavam me encarando, o que achei péssimo. Eu não sou uma pessoa tímida, mas detesto ser o centro das atenções e nesse momento, parece que eu sou.

— Todo mundo está olhando pra mim - eu reclamei com Mariane, ajeitando minha blusa.

— Nem liga, boba - ela abanou a mão — A gente nem vai ver essas pessoas mais na vida - ela deu uma risadinha — Que se fodam eles!

Eu apertei os lábios. Quando saímos do café, trocamos de roupa porque depois da faculdade a gente ia ao show, então até que eu estou arrumadinha, mas não para um lugar como esse.

A fachada já mostra elegância e sofisticação. Tem detalhes clássicos e uma iluminação suave. Acima da porta principal tem um letreiro luminoso em letras douradas exibindo o nome da boate em modo refinado que até se torna um convite a entrar.

Toda vez que a porta se abre para alguém entrar ou sair, dá para ouvir a música pulsante. Só que eu me toquei para um detalhe.

— Mariane - eu segurei seu braço e falei baixinho — Esse lugar deve ser caro, criatura. Eu não posso ficar gastando dinheiro assim.

Até porque eu não tenho tanto para esbanjar dessa forma. Ir a um barzinho depois do show que eu economizei quatro meses para comprar o ingresso, tudo bem. Gastar na entrada de uma boate cara e pagar o valor de um mês de aluguel para tomar uma bebida, aí já é outra coisa.

— Não se preocupe com isso - ela sorri e me mostra o celular — Eu já liguei para um amigo que trabalha aí e ele vai colocar a gente para dentro sem problema - pisca o olho.

Ficamos esperando enquanto ela mandava mensagem para o amigo dela. Tive que fazer de conta que não era comigo que aquelas loiras de farmácia ficavam olhando e cochichando.

Claro, dava para ver que a roupa delas gritava alguma grife. A minha roupa por outro lado, foi comprada em uma lojinha comum. Mas eu gostei, comprei e me sinto bem com ela, isso é o que importa. Eu só não gosto desses olhares de julgamento dessa gente hipócrita.

— Pronto! Ele já vem aí - ela fez uma dancinha engraçada.

Esperamos na frente, perto dos seguranças que mais pareciam um guarda - roupas. Depois de uns cinco minutos o amigo dela saiu e falou com um dos porteiros. Ele nos olhou e respondeu algo para ele. Depois retirou a corrente e nos chamou com um gesto de cabeça.

— Oba! Vamos, somos nós - Mariane saiu na frente, dando uma risadinha na cara das patricinhas que estavam na fila — Com licença, com licença - ela falou com o amigo e nos apresentou e o seguimos — Vamos, ele tem um lugar pra gente - ela estalou a língua toda animada.

Eu fiz o mesmo. Joguei o cabelo para trás e dei uma olhada abusada para o grupinho que estava na frente e que ficou me encarando.

Ouvi alguns assovios e joguei o cabelo de lado novamente, só pra fazer charme. As meninas estão certas. Eu nunca mais vou rever alguém aqui, então vou curtir o máximo que der.

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