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Capítulo 4 — Um jantar não faz mal

Ulisses

Ficar responsável pela Quitanda esses dias estava sendo um alívio pra mim, mas eu tinha que enfrentar também os meus problemas. Assim como Judy, minha família também não sabe que eu fui expulso da faculdade por agredir um cara que tentou abusar da minha amiga de sala em uma social que teve como comemoração aos novatos. Eu não devo explicações para minha família, já que não dependo deles para absolutamente nada, já Judy, achava que estava me atrapalhando.

— Acabei de chegar da entrevista.

— E como foi lá?

— Terrível. Pra piorar o chão era de vidro, ainda fui de vestido e foi uma droga, a mulher era extremamente operacional e teve algumas perguntas que eu nem fazia ideia que existiam, acho que eu nem vou conseguir… — Judy sempre trabalhou com o pai, eles moravam em uma fazenda e quando vieram para cidade, Judy comprou está Quitanda e era nisso que ela trabalhou até hoje.

— Eles vão te ligar, você vai ver só. Nada disso é em vão. — Disse e a vi sorrir, mas sei que não deve estar sendo fácil, afinal, é o pai dela e sua única família.

— Eu também não posso te manter sem te pagar, estou ficando sem encomendas também, hoje tenho que passar a madrugada fazendo algumas coisas que já estão em falta. Mas, nós vamos dividir o que a Quitanda faturar.

— Não se preocupe com isso, eu não quero nada, só quero ajudar você. — Judy era minha melhor amiga e eu não podia deixar ela pensar que estava me atrapalhando, então, tomei a iniciativa e vou falar a verdade antes que seja tarde e isso possa deixar ela chateada. — Judy, eu fui expulso da faculdade e não tenho mais com o que perder tempo. Por isso, não vejo problema algum em ajudar você, além disso, eu posso te ajudar hoje também. Sei que não é fácil, você e Lúcio são como uma família pra mim e saiba que eu estarei aqui sempre.

— Caramba, eu não sabia disso, por que não me disse antes? Mas, foi alguma coisa muito grave?

— Não foi nada demais, mas não precisa se preocupar, foi até bom, eu estava enlouquecendo lá dentro.

(...)

Judy

— Então, como o Sr. Lucin Delu. — Meu pai acordou passando mal e as enfermeiras me ligaram dizendo que ele iria precisar por mais uma cirurgia dentre algumas horas, eu estava apenas tranquilizando ele, dizendo que tudo iria ficar bem, mas nem eu estava certa disso e não tinha ninguém que me consolasse além do Ulisses.

— Eu espero não estar atrapalhando, mas eu estou aqui pra lhe desejar forças, meu amigo. — Era Ramon, ele chegou sem avisar e estava trajado de forma chamativa, não que estivesse ridículo ou coisa do tipo, mas eu nunca tinha o visto de blazer ou terno, na verdade eu raramente o via.

— De forma alguma, eu ia te dizer e acabei esquecendo. Eu vou deixar vocês dois a sós, vou almoçar e se precisar ir embora pode me avisar, por favor?

— Pode ir, eu vou esperar você voltar.

Fui até o restaurante mais próximo e vi Vivian e a tal Helena almoçando juntas.

— Judy! — Vivian gritava se pendurando em meu pescoço e beijando minha bochecha. — Eu deixei várias mensagens no seu direct, mas você não respondeu nenhuma delas, está acontecendo alguma coisa?

— Desculpa Vivian, eu ando tão ocupada que acabei não vendo nada, mal peguei o celular esses dias, mas eu prometo que antes de você ir embora nós vamos sair.

Vivian era mais nova que eu seis anos, ela tinha seus 18, mas se comportava como uma adolescente rebelde que tinha tudo que queria, mas não a julgo, afinal, ela é a filha de Ramon. Ele era empresário, eu só nunca soube o que ele faz e nunca me interessei por isso, mas sempre soube que ele era rico e bem cobiçado entre as mulheres.

— Meu pai disse que você está muito ocupada mesmo, eu não sei como você consegue suportar tudo isso sem surtar. — Ela sempre foi mesquinha e esse um ponto que eu detestava nela, isso me irritava pra caralho, ela era idiota demais em certos momentos.

— Não é questão de ser forte, Vivian, ele é meu pai e eu não meço esforços para cuidar dele. Não é uma escolha ou uma opção, ele simplesmente é meu pai e só isso.

— Eu sei querida, não quis ser indelicada, mas eu no seu lugar contrataria uma pessoa para cuidar dele. Andrew até me disse que você está planejando morar sozinha, deixou seus sonhos para trás para cuidar do seu pai. Eu acho isso até fofinho, mas jamais faria isso.

— Nesse caso o problema é todo meu. Eu vou nessa Vivian, estou atrasada. — E antes que eu fosse embora, não queira sair por baixo, então voltei lá olhei bem na cara dela e disse: — Ah, você deveria ser mais grata ao seu pai, porque se eu fosse ele e soubesse no que você iria se tornar, te deixaria lá mesmo, dentro daquele orfanato, mas que pena que você era apenas uma criança precisando de amor. Seja mais grata e fale menos, sua voz é irritante.

Peguei minha conta e mesmo sem comer voltei ao hospital, eu só tinha mais 30 minutos antes do meu pai entrar novamente dentro daquela sala de cirurgia. Ramon estava chorando quando eu cheguei e antes de entrar ele me pediu um minuto de atenção.

— Judy, eu quero que saiba que não está sozinha. Lúcio é um homem forte e vai sair dessa recuperado, tudo bem? — Eu estava com o coração apertado demais e suas palavras me fizeram chorar.

— Eu sei, ele vai ficar bem, meu pai não me deixaria sozinha nunca. Além disso, muito obrigada pelo apoio que está me dando. — Sentei na cadeira que estava à minha frente e suspirei colocando as mãos no rosto.

— Eu andei pensando e achei que precisamos de um jantar, eu preciso te conhecer melhor para podermos nos dar bem enquanto seu pai estiver nessa situação. — Eu não sabia o que dizer, e agora? O que eu faço?

Ramon estava me estendendo a mão e eu estava morta de vergonha.

— Vamos, eu vou te deixar em casa. Preciso que me diga se sim ou não ainda.

Ele é um tremendo gato, mas é pai da Vivian e do Andrew e o pior de tudo, ele é melhor amigo do meu pai, mas um jantar não mata ninguém. Mas, e se eu acabar descobrindo coisas sobre mim que eu mesma ainda tenha medo, como o fato de eu poder realmente chegar a conclusão estou tendo uma quedinha por ele.

— Eu acho que vai ser bom, a gente mal se falava. Eu, não sei porque! E muito obrigada pela carona, estava mesmo cansada.

Antes de irmos, eu me despedi do meu pai e vi os enfermeiros empurrando sua maca para outra sala.

No caminho até o estacionamento ninguém disse uma palavra, nem eu e nem ele, uma vez ou outra ele sorria de canto e até que ficava sexy.

— Eu não consigo aceitar isso. Por que logo com meu pai? Ele sempre foi um cara tão bom, que filho da puta aquele maldito motorista. — Quando percebi já estava falando o que vinha à minha mente.

Ramon

— Pai, o senhor não acha que a Judy anda muito estranha? — Vivian se questionava e dessa vez Helena decidiu abrir a boca.

— Ela parece que não reconhece o que você faz por ela. Mal agradecida! — Helena falava com uma certa convicção, enquanto eu a placa com a sobrancelha erguida sem acreditar em tal coisa. — E pessoas que são assim, só se ferram na vida.

Eu estava cansado, triste e por um fio. Precisava de um banho e estava tenso por ter que ficar cara a cara a sós com a Judy daqui há algumas coisas, não sei mais como se constrói uma boa conversa, ultimamente eu não tenho feito esse tipo de coisa, o que me importa mesmo é o prazer e ter gozado no fim da noite.

— Olha, eu não aceito que fale mal de Judy quando eu estiver por perto. Afinal de contas, o que ainda estão fazendo aqui? Você já deveria ter voltado, eu liguei para a faculdade e disseram que as férias só seriam daqui a três meses, Vivian. O que tem a me dizer sobre isso? Agora deu para mentir pra mim?

Ela estava sem palavras, Andrew estava sério, apenas observando toda a situação e calado.

— Vamos, aproveitem essa noite e amanhã vocês duas voltarão, não quero mais saber de mentiras ou você conhecerá uma das minhas personalidades que nunca viu antes. Eu sou seu pai e exijo respeito, Vivian. Tanto de você quanto do seu irmão, por favor, não me decepcione.

— Me desculpe! O senhor vai sair hoje?

— Daqui há alguns minutos, por que, tem alguma coisa mais a me dizer?

— Não, é que eu pensei que…

— Eu sei, amanhã eu penso melhor e talvez passamos o dia juntos e você embarque à noite. Tudo bem?

— Não tenho escolha! — Emburrada ela e Helena saída e eu fui até a casa de Judy, estava na hora.

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