CAPÍTULO 5 - HENRICO
Eu quase estraguei tudo. Esqueci por algum tempo que estava na maldita festa para vigiar e conhecer mais sobre o inimigo, mas acabei dividindo copos de tequila e confraternizando, foi tão natural que não percebi que estava baixando a guarda e relaxando, na cadeia se manter em alerta é o que te mantém vivo, não é os guardas que estão ali para supostamente nos vigiar e "resguardar", muito menos os seus parceiros de selas, a única pessoa confiável naquele meio é você mesmo, por isso eu nunca relaxava e confiava. Até, ontem.
A ideia era fazê-la beber até falar o que não devia, sendo bem claro, até ela está bêbada o suficiente para jogar pra fora os podres de cada membro da família Leal, contando com os seus. O plano parecia brilhante quando se formou na minha cabeça, assim que a vi seguir de forma sorrateira para o bar.
Meus olhos brilharam em expectativa quando a vi tão vulnerável bem ali, a máscara não conseguindo disfarçar a tristeza presente nos olhos claros e bonitos. Merda, talvez a culpa não tenha sido da tequila.
Acreditei em Aurora quando ela me disse que sua madrasta era interesseira, uma qualquer que se deitou com seu pai quando sua mãe estava morrendo aos poucos em uma cama de hospital. Também acreditei quando ela me disse que a fedelha, a bastarda que ela se recusava a chamar de irmã tinha puxado a mãe nesse aspecto. Até então, eu não conhecia nenhuma das duas, mas confiei cegamente nas palavras da minha ex esposa.
No fundo, eu sabia que poderia ser só implicância e ciúmes. Mas os sites de fofocam afirmavam que Anna Maria, mãe de Amélia, tinha sido amante de Augusto Leal por quase um ano antes da morte da esposa. Eu odeio traições, de qualquer tipo. Meus pais sempre mantiveram um casamento feliz, mantinham aceso o fogo do desejo e me faziam fantasiar em ter algo assim um dia, por isso eu peguei um certo ranço das duas antes mesmo de ser apresentado de maneira formal.
No entanto, na época que a garota meio magricela apareceu no meio da minha sala pela primeira vez, brincando de forma distraída com uma galinha, não me pareceu alguém dissimulada e ambiciosa, na verdade, ela parecia um cachorro assustado que adorava mostrar os dentes e rugir. Naquela época me ocorreu um sentimento estranho, algo que ignorei e não falei pra ninguém, mas aconteceu no exato momento que a garota virou para me encarar e me deu uma de suas respostas atrevidas, as que ela costuma dá quando esquece de segurar a língua e manter a compostura de boa menina.
Ela me olhou de igual para igual, empinou o pequeno nariz e roubou todo o meu ar. Lembro de pensar que aquele tipo de beleza era surreal e senti vontade de arrancar a tristeza dos olhos mais bonitos que já tinha visto.
— Então, você quer conversar sobre o que vimos no aniversário da menina? — Encaro o rosto sério de Guilhermino, ele anda tentando falar sobre assunto desde quando chegamos da festa, duas noites atrás.
— Não tem o que falar. — Resmungo. Enchendo meu copo com suco de graviola e levando a boca.
Guilhermino e eu sempre fomos próximos, do tipo que compartilha qualquer coisa. Mas não estou interessado em debater sobre como doeu assistir minha ex beijar outro na minha frente, por mais que ela não soubesse que eu estava ali assistindo o tempo todo e o outro fosse seu atual marido.
O fato é que doeu, mas não tanto quanto ele está pensando.
— Certo, mas não vou aguentar esse seu mau humor. Se não quer conversar, então trate de colocar um sorriso nesse rosto feio e vamos cavalgar. Você precisa relaxar.
Franzo o cenho para as suas palavras, discordando da sua declaração. Eu não estou de mau humor, apenas decepcionado.
Ele se levanta da mesa de café da manhã, arrastando a cadeira com seu movimento brusco e fazendo barulho.
— Meu cavalo morreu. — Relembro.
Ele me olha de soslaio, parecendo entediado com meu argumento.
— Monte Lexus, ele não deixou ser domado por ninguém até agora. — Fala, pegando seu chapéu e encaixando em sua cabeça. Me deixando sem argumentos e partindo pra fora da casa.
Sopro o ar pra fora, me sentindo culpado por está escondendo segredos dele. Eu sei que essa tentativa de relembrar os velhos tempos e me chamar pra cavalgar é só mais uma tentativa para me fazer falar, ele sabe que tem algo de errado acontecendo e acha que me levar pra longe vai me forçar a falar.
Bem, eu prefiro mantê-lo longe dessa parte.
Passear a cavalo não vai extrair toda a raiva que tenho dentro de mim, tenho sonhado com essa vingança e nada vai me fazer parar.
Termino o café da manhã sozinho, subo de volta para o quarto e tranco a porta por seguro. Busco o celular descartável no bolso da minha calça jeans e ligo para um dos dois contatos salvos.
— Alô? — O homem do outro lado da linha pergunta de imediato.
— Você tem alguma coisa pra mim? — Falo, pulando a parte das apresentações.
Ele rir baixo.
— Calma, meu rapaz. Seus homens já me passaram algumas informações importantes, mas preciso de mais. Tudo que eu tenho pode ser derrubado em poucos dias.
Esbravejo, xingando baixo.
— Ok, mas não vou ficar esperando você agir. Vou fazer do meu jeito.
— Cuidado, rapaz. Da última vez você passou longos três anos atrás das grades.
— Não se preocupe, aquele RAPAZ existe mais.
Dou por encerrada a ligação, não dando chances para uma resposta. Clico no outro número salvo do celular, mas, ao invés, de ligar, envio uma mensagem.
"PS: Ainda tô de ressaca."
— Seu merdinha, que raios você está fazendo trancado nesse quarto? Não me diz que tá batendo uma punheta. Acho que você precisa de uma mulher, só pensa naquela loira, acho que nem é loira de verdade.
Reviro os olhos, ignorando suas batidas insistentes.
— Tava pensando aqui, você ficou tanto tempo naquela prisão, será que ainda gosta de mulher? Você gosta, não gosta?
Bufo, desistindo e indo abrir a porta pra ele.
— Vamos montar, mas, por favor, cala a droga dessa boca!