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Capítulo 8

Capítulo 8

Clarice encosta o corpo na parede espelhada do elevador, sentindo as pernas trêmulas. Mesmo sem ter olhado diretamente para Natan, o funcionário que a abordou, ela tem a impressão de conhecê-lo de algum lugar. Uma sensação de reconhecimento paira em sua mente, mas ela não consegue identificar de onde.

O cheiro do perfume dele lhe é familiar. Mas de onde será?

A porta do elevador se abre, interrompendo seus pensamentos. Clarice sai do elevador, dirigindo-se à sua sala, mas a imagem de Natan ainda ronda sua mente, deixando-a intrigada.

— Ah, aí está você! Posso saber o que faz aqui? Hum? Deveria estar descansando. Seu corpo não está dolorido? — diz Cíntia, deixando-a tonta com tantas perguntas.

Suspirando, Clarice responde apenas à última:

— Eu estou bem, apenas um pouco dolorida. Para quem ficou quase dois dias em trabalho de parto, estou ótima.

— Engraçadinha, venha até minha sala.

— Tenho que trabalhar, Cíntia.

— Não me venha com essa... Quero saber o que aconteceu antes do seu acidente, ouvi uns burburinhos.

De cenho franzido, Clarice acompanha Cíntia até o RH, e curiosa como é, a questiona antes mesmo de entrarem na sala.

— Que burburinhos você ficou sabendo?

— Primeiro, sente-se. Vou fazer um expresso para você, está precisando — diz Cíntia, indo até o canto da sala preparar o café.

Enquanto isso, Clarice senta na cadeira à frente da mesa dela e sem querer passa o olhar numa pasta na mesa. O nome "Natan" chama sua atenção. Antes de perguntar por que ela está com a pasta do funcionário, Cíntia começa a tagarelar sobre a festa, fazendo-a se esquecer da pasta.

— Mulher do céu, falaram que a dama de preto estava beijando um homem muito alto e loiro. Alguns te reconheceram, outros ficaram decepcionados por ele ter chamado sua atenção. Vocês se beijaram mesmo? Por que não me contou? Pensei que fossemos amigas — diz com um tom de mágoa na voz.

— Nós somos amigas. O beijo foi sem importância, por isso não vi a necessidade de falar sobre isso — responde Clarice, sabendo que está escondendo a verdade.

Cíntia ergue uma sobrancelha, não acreditando em nenhuma palavra de Clarice. Sabe que a amiga é durona, não gosta de demonstrar sentimentos e tem dificuldade em se apaixonar, tanto que só teve um homem até hoje, e que homem.

Cíntia lhe entrega o café e senta à mesa, cruzando as mãos sobre a superfície.

— O que achou? — pergunta, observando Clarice tomar o café com ar de satisfação.

— O café está ótimo. Obrigada.

— Não perguntei do café...

Clarice olha para ela com um ponto de interrogação na testa.

— Então é sobre o que?

— O beijo do louro gostoso. Ficou de calcinha molhada?

Clarice engasga, começando a tossir. Tinha esquecido como a amiga é direta.

— Fala logo... Ficou com vontade de dar pra ele, não foi?

Clarice tinha se levantado para pegar um guardanapo e limpar os lábios. Balança a cabeça, sabendo que não pode escapar da pergunta. Suspira antes de responder.

— Já disse que foi sem importância...

— Sei...

— Foi bom, mas não tanto. Eu já tinha esquecido do ocorrido.

Cíntia bufa antes de pegar a pasta e guardar na gaveta. Isso chama a atenção de Clarice, que a questiona:

— O que faz com a pasta de um dos funcionários?

Cíntia engasga levemente e limpa a garganta para disfarçar. Não quer contar por enquanto sobre seu interesse em Natan, prefere esperar um pouco para ter certeza se quer ficar com ele.

— Lembrei que você tinha dito sobre o gerador e resolvi pesquisar um pouco sobre o eletricista, escolaridade, empregos anteriores, enfim... Não vi nenhum problema, ele é apto.

— Que bom. Falando nisso, espero que ele tenha resolvido o problema com o gerador — diz Clarice, pegando a bolsa.

— Posso fazer isso. Vou ver ainda hoje sobre esse assunto — diz Cíntia, com um sorriso malicioso que passa despercebido por Clarice.

— Eu vou indo, tenho muito trabalho acumulado.

— Está bem. Ah, espere. Terá outra festa em uma semana.

— Nem pensar!

— Sei que vou te convencer, ou o meu nome não é Cíntia de Nóbrega. Te vejo mais tarde?

— Acredito que nos vemos amanhã.

— Ok, até minha querida.

Clarice coloca a alça da bolsa no ombro, sai da sala do RH e anda até a sua.

***

Natan para de andar ao vê-la, linda como sempre, exalando sensualidade a cada passo. O quadril requebra, fazendo suas nádegas subirem e descerem de uma forma sensual.

Ele tenta puxar o ar, encontrando certa dificuldade. Passa o dedo pela gola apertada do uniforme e continua se sentindo sufocado.

— Essas pernas... — por um instante, deixa-se levar por um devaneio, imaginando Clarice passando as pernas ao redor de sua cintura, oferecendo-lhe os lábios como se estivesse implorando por seus beijos.

Balançando a cabeça, Natan tenta sair desse delicioso devaneio antes que fique louco de vez. Precisa fazer alguma coisa para esquecer essa mulher, ela é impossível para ele.

— Terra chamando Natan.

O susto foi tanto que Natan deu um salto ao ser pego por Nikolas, que olhou na mesma direção que ele.

— Ah, danadinho... Olhando a secretária da minha mãe — disse vendo a mãe conversando com a secretária na porta do escritório.

— Na verdade, estava olhando para sua mãe.

— O que você disse? — pergunta Nikolas, franzindo a testa.

— Estranhei ver sua mãe na empresa. Deve estar toda dolorida do acidente e está vindo trabalhar — disse com ar de preocupação.

— Ah, sim... — diz Nikolas, suavizando o semblante. — Ela é teimosa. Ama trabalhar, mas estou de olho, se perceber algo fora do normal, levo ela pra casa.

— Você é um bom filho.

— Amo minha mãe. Venha até minha sala...

— Infelizmente não posso, preciso ir urgente até a cobertura.

— Ok, então vá depois para conversarmos. Ah, você tem algum compromisso no domingo à noite?

— Estou livre.

Nikolas olha para os lados antes de falar:

— Cara, você sempre está disponível. Não está namorando?

— Parece que ultimamente eu espanto as mulheres — diz Natan com um sorriso divertido. — A última que beijei saiu correndo.

Nikolas começa a gargalhar e coloca a mão no ombro do amigo antes de dizer:

— Então somos dois.

Ambos riem e se despedem antes de seguir cada um seu caminho. Nikolas entra em sua sala; a secretária se levanta ao vê-lo, ele estranha essa atitude, talvez seja por tê-la assustado que se comportou dessa forma.

— Venha até minha sala com sua agenda e um bloco de anotações.

— Sim, senhor.

Ela pega rapidamente. Ele escuta o barulho dos saltos atrás de si, não sabe por que, mas sua vontade é de se virar e olhar para ela debaixo para cima.

Balançando a cabeça para afastar esses pensamentos, por achar que está ficando louco, ele se senta sem olhar para ela, desbloqueia o computador enquanto pede para ela dizer a agenda da tarde.

Enquanto ela fala, mantém o olhar fixo no computador; em seguida, verifica um dos e-mails, pede para ela aguardar enquanto lê.

Momentos depois, ele decide olhar para ela. Fica calado por um momento, se ontem a achou linda, hoje está muito mais.

— Vou viajar a negócios neste final de semana. Vou precisar que vá comigo. Está disponível ou vou precisar de outra secretária? — diz ele num tom neutro.

Marta fica surpresa, mas aceita assim que se recompõe.

— Vou com o senhor.

— Ótimo, compre as passagens e reserve o hotel.

— Farei isso agora mesmo. Mais alguma coisa? — diz ela ao se levantar.

Ele ia responder, mas comete o erro de fazer o que tanto queria, desce os olhos pelo corpo esguio. Pigarreando, coça a cabeça para disfarçar.

— Não, pode se retirar.

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