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Uma Boa Noite

** Por Lívia / Ludmila**

A amizade com as meninas ao longo desse primeiro mês aqui, fez com que as minhas idas ao baile fossem frequentes, com isso passei a ver o tal Nanzin mais vezes que o normal perto da minha casa. Ele sempre fez questão de me encarar, me deixando cada vez mais sem graça e eu sinto o meu rosto esquentar de vergonha.

Com a minha nova amizade com a Jéssica, também ampliei ainda mais os meus horizontes dentro da favela e as minhas idas e vindas pelos becos e vielas daqui aumentaram. Mas, infelizmente, nem tudo são flores, e acabei despertando alguns olhares estranhos da amiga da Moniquinha, e eu nem mesmo sem porquê.

— Qual foi daquela Dedéia, Jéssica? — Pergunto assim que saímos do salão da Moniquinha. — A mina me olha com maior cara feia, até pensei que estivesse com alguma coisa suja na cara.

— Dedéia é de boa, Lud. Deve estar recalcada com mulher nova na área, daqui a pouco ela sossega a bunda.

— Eu hein, que louca. Nem fiz nada com ela, a mina nem fala comigo direito.

— Ela é peguete do Nanzin, e todo mundo já percebeu como ele olha pra você quando estamos no baile.

— Eu ainda não sei de onde vocês tiraram essa ideia, Nanzin nem me dá moral.

— Sai daí, Lud. O homem te encara na cara dura, tu que se faz de doida.

— Problema dele e da tal Dedéia. Ela que sente nele e me deixe em paz.

— Ela já senta nele, amiga. Mas ele quer que você sentando nele também.

— Sai daí, Jéssica. Tu diz que o homem é problema e mete uma dessas ai? Doida.

— Ele é problema, mas é um filho da puta de um gostoso e tu sabe disso. Então senta, mas não gama porque ele é problema.

— Na dúvida prefiro não sentar em ninguém.

Jéssica me olha com deboche e logo chegamos na minha casa. Nos despedimos e eu me olho no espelho assim que entro. Unhas enormes, mega hair, roupas que nem de longe fazem o meu gosto. Espero que tudo isso termine logo, não sei por quanto tempo vou conseguir viver nesse personagem em tempo integral.

Me sento no sofá e encaro o celular por alguns minutos, decidindo então mandar uma mensagem para a Thainá e pedir ajuda, para começar a colocar os meus planos em prática.

- Amiga, preciso da sua ajuda.

- Oi, amiga. Está tudo bem?

- Sim, está. Preciso de algo para começar a colocar o meu plano em prática.

- Como assim?

- Infelizmente não posso matar ninguém do nada, mas posso começar a causar um caos nessa favela.

- E como eu te ajudaria nisso, Liv?

- Que tal uma boa noite de sono nesse primeiro momento?

- Sabe que não posso fazer isso, eu nem me formei ainda!

- Eu não pediria se fosse importante, me dá pelo menos o nome de algum medicamento e eu dou um jeito de comprar.

- Que raiva de te amar, garota! Te mando a foto de algo bem forte.

- Eu te amo.

- Eu também te amo, e olha o preço que pago por isso.

Após alguns minutos, a Thai me mandou o nome do remédio e eu quase corri até uma farmácia para comprar. Por ser uma medicação de uso controlado e precisar de receita médica, tive que pagar um valor bem acima do normal, mas consegui comprar e fiquei ansiosa para começar a usar logo.

Bem mais rápido do que imaginei, no dia seguinte tive a oportunidade perfeita assim que voltei do mercado, e não pude desperdiçar.

— Qual foi, Lud. Me arruma outra água aí, a Jéssica saiu com a tia e ainda não voltou. — Um dos homens da boca me diz assim que abro o meu portão.

— Claro! Vou pegar aqui.

Olho para o remédio com um enorme sorriso. Algumas gotinhas e a pessoa pode dormir tranquilamente durante toda a noite, então vamos começar a causar um pouco de caos. Pego a garrafa de água e coloco uma dosagem suficiente para fazer um elefante dormir, entrego a ele e entro.

Alguns minutos depois ouço a confusão na rua, e saio no portão para me certificar que eu fui a causadora disso.

— Qual foi, Jhonny. Tu tá maluco? Os dois dormindo e as drogas assim? Vocês tão querendo morrer?

— Foi mal, TH. Foi sem querer, vai acontecer de novo não. — Ouço a voz enrolada de um deles, e sorrio.

— Acho bom mesmo! Tu tem que dormir quando tiver em casa, porra. Faz isso de novo que tu vai ver a merda que tu vai arrumar. — Nanzin diz e me encara, me dando o lindo sorriso que revelam as suas covinhas que nem havia percebido antes. — Fala loirinha. Tá tudo tranquilo?

— Tá sim, Nanzin. Tudo tranquilo, na paz de Deus.

— Se liga. Vai rolar um baile mais tarde, pô. Brota lá pra beber com a rapaziada. É aniversário do DG, a tua amiga vai aparecer lá também, vai com ela.

— Vou tentar ir. — Dou um sorriso provocativo — Mas quero ver se vai valer a pena.

— Brota lá que tu vai ver, loirinha. Quero ver você bem linda pra mim.

— Ialá, chamou tu de feia, Lud. — Jéssica diz enquanto aparece no portão.

— Tá mandada, porra? A loirinha é gata, por isso que o ex não sai da cola dela.

Nanzin percorre o olhar pelo meu corpo e eu sorrio envergonhada. Ele me dá uma piscada e sai com a moto, acompanhado do tal TH, segurança dele.

— Tira esse sorriso do rosto, Lud. Já te dei o papo, se ilude não que esse aí só pega por uma noite, diz que mulher é problema. Tu é maneira, não quero ver você sofrer não.

— Obrigada por avisar, amiga. Mas eu não quero me envolver com ninguém não. Homem também é problema. Vou entrar, tenho que trabalhar ainda. Vai pro tal baile mais tarde?

— Vamos, amiga! É aniversário do DG, pô. Por isso que vim aqui, mas o Nanzin foi mais rápido. — Ela debocha e eu coro. — mas sério, Lud. Se ilude não, a minha amiga Leninha se fodeu por causa dele.

Jéssica muda a fisionomia por alguns segundos e depois sorri para disfarçar. Nos despedimos e eu volto para o trabalho antes de começar os preparativos para o baile mais tarde.

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