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☬ - 04 | Meu amor se foi

"Não tenha medo de não ter ninguém. Tenha medo de ter alguém e, ainda assim, se sentir sozinha."

— Autor desconhecido

...ᘛ...

Horas antes...

Já passava das 18:00 quando alguém bate insistentemente na porta da casa do Kamael. Berriere estava dormindo quando escutou os murros na porta da frente. Se levantando assustada, corre para ver quem é.

— Meu Deus! Quem será uma hora dessa? — Reclamou abrindo a porta. Na sua frente havia um policial alto com uma aparência de cansado. O encarando sem entender observa o jeito cauteloso que a abordava, pedindo para que respire devagar e que tenha calma. Naquele momento sua vida viraria do avesso.

— Sinto muito pelo incômodo Sra. Mondova, não trago boas notícias. Infelizmente seu marido Kamael Mondova sofreu um terrível acidente e veio a óbito. — Cautelosamente passou a informação para Berriere que se apoiou na porta sem dizer uma palavra.

— Poderia vir comigo até a delegacia para o reconhecimento do corpo?

— Não pode ser! Ele não pode ter morrido! — Sussurrou para o policial que não entendeu nada do que disse. — Saiu de casa hoje brigado comigo senhor, não tive tempo de pedir desculpas por deixá-lo irritado. — Se sentindo culpada pelo estresse dessa manhã, fecha os olhos e respira fundo. — Meu amor se foi.

— Venha comigo! Tem mais alguém que possa te ajudar com o processo de liberação do corpo?

— Não. Era filho único com pais já falecidos.

— Sinto muito. — Lamenta com uma voz triste.

Pegando sua bolsa e as chaves tranca a casa e entra na viatura com o policial. Em sua cabeça pensava: Não pode fazer isso comigo. Como vou viver sozinha? Kamael era tudo para mim, eu só tinha a ele.

— Meu Deus! — Exclamou alto.

— Sei que é difícil Sra. Mondova, mas ficará tudo bem. O luto é cruel nos deixa vulnerável e pior ainda, sempre vem com a culpa. Nos culpamos por coisas que deveriam ter sido feitas ou ditas e que não tivemos coragem de falar ou expressar. Se mantenha firme e acredite em mim, vai doer, mas vai passar.

— Sair da casa do meus pais direto para casa dele. Não tivemos um filho nem nada. Como será viver sozinha naquela casa imensa?! — Desabafa. Presa em seus pensamentos, nem percebe que está no hospital.

— Venha comigo! — A levando para uma sala no final do corredor, o policial tenta explicar que a visão que teria dentro da sala era chocante. Ela cobre a boca na tentativa de engolir o choro.

— Sinto um frio na barriga. — Sussurra. Uma mulher a pergunta se estava pronta para ver o corpo. Em sua mente só queria ter certeza que não era seu marido, que era tudo um engando.

— Ok. — Ao entrar de imediato cobre o nariz. Um cheiro muito forte de carne queimada exalava por toda sala. Em sua frente, estava um corpo de uma pessoa bem menor que seu marido, olhando atentamente não acreditava ser o Kamael. — Não encontro nada que possa afirmar que é o meu marido. — Analisando melhor se depara com a aliança que tem seu nome.

Nesse exato momento tinha certeza, era o Kamael. Em desespero o choro a toma por completo.

— Como um homem tão grande ficou desse tamanho?! Deveria estar vivo quando tudo aconteceu. — Era muita informação para sua cabeça. Sentindo sua consciência entrando em curto, deixa toda aquela emoção a consumir, a crise de pânico e desespero fez com que os médicos a sedasse, deixando-a inconsciente por horas.

Acorda sem entender o que está acontecendo. Percebendo que está em um quarto de hospital, escuta uma voz masculina grave que chama sua atenção. Procurando o dono dessa voz, observa um homem já de meia-idade conversando com o médico. Em sua cabeça, tem certeza que estão falando dela.

— Pode deixar que cuidarei dela. — Responde a outra pessoa que não está em seu campo de visão. Se vira e a encara com olhos marejados. Analisa seus traços, não parece estranho, acredita que já p tenha visto em algum lugar.

— Bom dia! — Diz olhando para ela esperando uma resposta.

— Quem é você?! — Pergunta analisando bem sua fisionomia. Pensa: Bem de perto se parece muito com meu Kamael. Aí a sua fixa cai e o desespero volta. Começando a chorar de soluçar, seu peito queima.

— Calma, eu estou aqui! — Segura em sua mão e, com medo a puxa o deixando sem graça.

— Não sei quem é você, também não quero saber. Só quero meu marido, meu Kamael. — Se afasta triste. Repara em seus olhos vermelhos de quem ficou chorando por horas. Se pergunta internamente quem seria aquele homem.

— Também estou sofrendo menina! — Confessa.

— Meu nome é Berriere. — Rebate grosseiramente.

— O meu é Bronck. — Reconhecia o nome, mas no fundo não queria acreditar que isso estava acontecendo.

— Quem é você? — Pergunta chocada.

— Sou o pai do Kamael. — Confirma.

Em sua cabeça só havia um pensamento: Ele mentiu para mim? Não é possível que o Kamael fez isso!

— Não é possível! — Protesta mentindo para si mesma.

— Hã?! O que te leva a crer que não sou o pai dele menina? Posso até estar mais velho, mas meu filho era minha cara.

— Ele disse que você já era falecido. — Sem se preocupar em saber a verdade o responde. Olha incrédula e pensa: Esse cara é um ator ou Kamael mentiu para mim esses anos todos? Aí, pensa no que disse, que se houvesse mentindo esses anos todos poderia ter dito palavras duras ao homem à sua frente e pelo olhar dele o tinha magoado.

Ele a olha chocado. Berriere percebeu a semelhança que chegava a ser surreal. O Kamael ficaria lindo mais maduro, pensou.

— Olha menina, eu sou o pai dele e tenho como provar. Infelizmente estou vivo, mas sinceramente queria estar morto. — Vendo que seus olhos estão prestes a transbordar, respira fundo e como uma criança sobe ameaças engole o choro. Se sentindo mal por isso abaixa os ombros.

— Me desculpa. — Pede enquanto observa.

— Estávamos em ligação quando tudo aconteceu, por isso sei de sua morte e vim correndo para cá. Somente hoje tive conhecimento sobre você. Berriere o corta antes mesmo dele dizer tudo o que tinha acontecido.

— Também não sabia da sua existência. — A encara sério, como se estivesse preso em seus pensamentos.

— Você virá comigo! — Incrédula o olha.

— Não! — Rebate.

— Sim! Você vem menina.

Em sua cabeça criava uma discussão interna. Há, mas não vou mesmo!

— Tenho uma empresa e cuidarei dela para o Kamael. — Despeja as palavras na cara dele se assustando com seu próprio tom de voz.

Pensou: o que estou dizendo?! Não sei como será minha vida. Recuando seus olhos dos dele, fica chocada com suas próprias palavras. Como faria isso sozinha?

— Não seja patética, sua empresa está falida, tenho a sustentado por 8 meses. Seu marido nem me agradeceu. Eu o amava, era meu único filho, perdi minha mulher e a vida mais uma vez tira de mim alguém precioso. Você é a única coisa que tenho agora. Então, você vem comigo e ponto!

— Preciso resolver algumas coisas da empresa. — Ficando sem graça com suas palavras tenta desconversar.

— Ok. Partiremos em 3 dias. Vou quitar a dívida e venderei tudo. O dinheiro será todo seu, afinal, o patrimônio é de vocês. — Anuncia fazendo pouco caso da empresa que para Berriere, o Kamael com tanto custo havia criado. Sabia dos problemas financeiros e achou grosseiro da parte do pai dele a tratar como se não fosse nada. Como pode ser tão autoritário?! Pensou.

— Não precisa. Eu tenho dinheiro. — Nesse momento o odiou, acha que ela não tem noção do rombo financeiro que está sua empresa.

— Não seja ridícula. Vocês estão falidos menina. — A encara com um sorriso debochado.

— O ridículo aqui é você! — Essas palavras deixam Bronck surpreso, a olha pasmo, como se fosse um ET.

— Creio que ninguém o repreendeu na vida Sr. Mondova. — Ironiza de sua expressão. — Vou pagar a dívida e salvar minha empresa.

— Teria 15 milhões na sua bolsinha da moda menina? — Debocha em sua cara.

Grita internamente. Como pode ser ridículo desse jeito!? Não vê que está sendo grosseiro? Pensou.

— Primeiro, me chamo Berriere Mondova, e segundo, tenho conhecimento das dívidas da minha empresa.

— Ok. Mas você vem comigo e isso não é uma pergunta. — Não acreditava como pode ser tão grosso.

— Saia do meu quarto agora! — Como resposta ao tom alterado da ordem que lhe foi dada, se senta e cruza as pernas.

Isso a deixa furiosa. Tenta se levantar caindo no chão, sem entender o porquê das suas pernas não obedecerem ao seu corpo.

— O que aconteceu? — Questiona.

Bronck se levanta imediatamente, vai para junto dela e a olha preocupado.

— Posso te retirar do chão? — Pergunta com receio.

— Não! — Responde chorosa.

— Por favor, deixe-me ajudá-la. — Suplica preocupado.

— Afirma que sim. — Olhando para ele com seus olhos em lágrimas e pensou: "Como me lembra o meu Kamael." — A pega com facilidade apesar de serem quase da mesma altura.

Berriere fica nervosa e não sabe o porquê.

— Me coloca na cama agora. — Sugere.

— Não vou te machucar menina, só quero cuidar de você. — A aperta contra o peito. Sentindo uma lágrima caindo no em seu rosto, tem certeza que está chorando.

— Me solta Sr. Mondova.

Ele soluça. Sentindo sua tristeza pensa: Perdeu seu único filho, imagino como deve estar sofrendo com isso.

— Eu sei que... — é interrompida.

— Por favor, cala a boca menina. — Se cala enquanto chora e a aperta em seu peito. Tentando olhar para ele que a impede com o queixo.

— Só preciso de um momento. Já vou te soltar.

— Tudo bem. — Resolve não discutir e decide respeitar sua dor.

Pensou: até nisso o Kamael puxou dele, não gosta de chorar na frente dos outros.

— Vou te colocar na cama. Tenho que fazer uma ligação.

— Tudo bem. — Consente.

A colocando na cama, se afasta pegando o celular e liga para sua secretária.

Berriere acreditava ser a sua mulher. Já que não sabia nada de sua vida.

— Carmem, o motivo da minha ausência repentina foi pelo falecimento meu filho Kamael. Comunique que voltarei em breve, no máximo em 3 dias. Mude toda minha agenda, diga aos Chineses que irei até seu país, caso não queiram me esperar. Se resolverem ficar, coloque todos no melhor hotel de Seattle. — O observa ouvindo tudo que a pessoa da ligação relata com atenção. Deve ser sua secretária. Não é possível que mande sua mulher fazer tudo isso.

— Muito obrigado. — Agradece encerrando a ligação e me olha com tristeza.

— Vou ver sua alta. Iremos para sua casa.

— Tá bom. — Sai e volta pouco tempo depois.

— Você quer uma cadeira de rodas ou vamos tentar andar?

— Tentar andar, por favor. — Pede educadamente.

Estendendo a mão para ela que a pega olhando em seus olhos, sente que está a encorajando a se levantar. Ficando de pé, sente suas pernas tremeram.

— Olha para mim. — O encara nervosa enquanto fala. — O trauma pode deixar seu corpo assim. Tudo no seu tempo menina. — Ficando com raiva por chamá-la de menina grita.

— Meu nome é Berriere.

— Vamos! — Sem paciência a pega no colo.

— Ai! — Reclamou.

Agora tinha certeza, ele e o Kamael eram farinha do mesmo saco.

— Aí está o jeito autoritário do Kamael! Estou vendo de quem herdou a grosseria. — Nesse momento a realidade a consumia. — Meu Deus! Como viverei sem meu marido? — Voltando a chorar novamente, a mantém rente ao seu corpo enquanto o choro toma conta dela. Chorava de soluçar. A leva para fora do hospital. Entrando em um carro com um motorista ela se mantém perto dele.

— Endereço? — Pergunta com voz de choro. Passa o endereço, ele repete para o motorista.

O carro pega velocidade e em poucos minutos estamos próximo à sua casa.

— Vou cuidar de você menina. — Ela o ignora totalmente.

Já em casa tenta sair, mas não consegue e mais uma vez a pega no colo.

— Onde é o seu quarto? — Procura saber.

— Lá em cima. — Aponta para o primeiro andar.

— Vamos, vou te deixar na cama. Tenta dormir um pouco.

Ele leva escada a cima colocando-a em sua cama.

— Não me deixa sozinha. — Implora segurando seu braço.

— Vou buscar minha mala, já volto.

Ele se vai, ela encara as próprias mãos.

— Como será minha vida agora? — Sussurra.

Me acomodando, logo o sono me pega.

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